À espera do vôo

Esperar é um verbo ingrato. Tira o resto da lucidez dos pensamentos e torna escassa a esperança. Dizem que quem espera sempre alcança... nem sempre. Às vezes não passa de momentos estéreis, em que a vida fica suspensa e o ouro passa bem diante dos nossos olhos baixos que nada vêem. Deixo essas palavras reclamonas, sem direção e que não são língua portuguesa e sim, um lamento crítico de quem sofre por amor. Tem gente que escreve. Eu não escrevo, simplesmente deixo as palavras voarem soltas e aterrisarem onde melhor lhes convier. Eu estou aqui, mas moro longe. Moro nas embalagens de morte enlatada, em notas perdidas, no fundo de um poço qualquer sem tampa, na tristeza de quem ama e nessas palavrinhas mórbidas que amedrontam e fazem tremer quem as lêem. Mas eu tenho asas. Asas quebradas, mas não que eu seja um anjo. É que eu vôo, fui cruelmente abatida e caí inerte no meio do mato. Minhas asas agora têm curativo grudando algumas penas soltas, que insistem em cair de mim deixando meu vôo meio torto. Minha alma torta eu preciso ter quem cuide. E insisto: não foi fácil voar. As asas são enormes, incomodam, não cabem na roupa apertada e incomodam quem dorme ao meu lado. Quando finalmente consegui aterrisar, cansada de planar livre e triste, ele simplesmente me olha e diz que é pra eu voltar e voar sozinha. Mas logo agora que voltei de um vôo cheio de percepções adultas, contextos e conceitos! Logo agora que tenho uma esperança inexplicável no amor, que sinto esperança só de ganhar um sorriso de graça na rua, seja de quem for. Logo agora que entendo que o amor vem da disposição e da coragem, que a humildade vem da paz verdadeira e que a minha vida vem em uma carruagem puxada por cavalos fortes. O que posso fazer agora? Ofereço então a minha vida e a minha honra nas mãos de quem amo, também a minha capacidade de entender e meu potencial docente e discente. Ofereço tudo isso e nada mais.