ANTROPOLÍTICA

Não há céu!

E letras versantes e vertiginosas enchem os olhos do louco,

Há um banco na praça que lhe dá o conforto que seu cérebro necessita para transgredir perante o maço de papel.

Não há céu!

Lave seus olhos com água limpa! Há muito ainda para se enxergar.

Um louco? Não há tal definição... todos são igualmente ridículos perante as vitalidades.

E já passam algumas dezenas de folhas pelos olhos daquele que se propôs a entendê-las e amá-las.

Não há céu!

Niilistas de todo o mundo vivem em buracos escuros e choram sem derramar lágrimas.

Há paz? Sim, há! Ela naturalmente se faz existir. Não se clama pelo caos na eternidade!

Quantos homens ainda vão morrer enquanto eu leio?

Não há céu!

Pesa no colo do revolucionário a ideologia, tanto que lhe esmaga as pernas e não mais lhe permite caminhar!

Dois jovens se cumprimentam em algum lugar do mundo nesse momento, devem assegurar a existência da cordialidade!

Não há céu!

Uma página mostra-se mais densa, carrega mais reflexão, e com certeza mais dias de intenso trabalho intelectual. Não há relação qualquer entre seus olhos e aquela tinta na folha. Há ali um portal ao mundo inalcançável, metafísico, que só observamos através de pequenos buracos, como na esfera incandescente de Anaximandro...

Não há céu!

Pouco falta para se chegar ao final, pouco falta para se conhecer a completude do universo! Poucas páginas o separam do êxtase.

Ele se contorce, seu corpo não suporta epifanias. Não possui em seu armário o antídoto necessário para a verdade.

Não há céu!

Algo grita seu nome, algo o quer!

Seu coração acelera o batimento: “sinto o sangue em mim!” – pensa ele antes de buscar o que lhe chama.

Um minuto mais e ele venceria o papel que tornara sagrado ao exercer a perfeita dialética entre seus dedos e seus olhos...

Não há céu!

Há uma missão, a de morrer imediatamente!

Seus olhos perdem o brilho, não há golpe mais certeiro! Algo lhe reduzira a um peso, um incômodo peso...

O que lhe diriam as frases que nunca foram lidas? É certo que permanecerão encarceradas a beijar outras frases. Ninguém mais as dará uma vida. Todos os loucos morreram, e assim se dará: retornando e morrendo eternamente. Nietzsche versara a verdade.

Não há céu!

Não há nada!

M.A.S.P.