O Zé pretinho, cantou...

Dona zefa, benzedeira de “mão cheia” e fé,

Idosa, já há muito como o Zeca, sua paixão.

Tinha no seu terreiro o afiliado alado, o Zé.

Morando com o filho, muito bom anfitrião.

Solteiro e festeiro, numa noite de São João,

Lá foi o moço que tinha o gosto de vinícola.

Tinha que ser o vinho advindo do garrafão.

Zefa e Zeca, preocupados e meio culpados,

À espera do unigênito manchado à silvícola

Que voltava da batalha, em seu belo trole.

Daquele velho casal, Joca era própria prole.

Porém, quando bebia de si fugia o controle.

Eis arauto; pouco antes daquela meia-noite

Com seu canto rouco e alto, fazendo açoite,

Zé Pretinho, o tal agoureiro ali do terreiro.

Dá seu aviso; qual fora primeiro e derradeiro.

Aproxima - se o trole a passo de lerdo trote.

Que alívio; era o Joca, porém, enlameado

De sangue sobre o peito bem avermelhado.

O casal foi com dor mortal acudir o coitado.

Não se checou nenhum mal, era um corote

De bom vinho curtido do qual havia bebido

E espargido sobre jovem-hercúleo peitoral.

Dormia profuntamente como a um projeto.

Jocosamente o valente Zé pretinho, quieto

Em seu cantinho, parecia o bem entendido

Da macabra proposta, porém, o irriquieto

Bateu suas asas sonorizando todo o quintal.

O casal riu como jovens amores a embalar

O menino de outrora naquele velho cafezal.

jbcampos
Enviado por jbcampos em 03/08/2010
Reeditado em 06/08/2010
Código do texto: T2416539
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