PARA ALÉM DOS PORTAIS

O Encantamento estava lá, reluzente como um luminoso.

Um letreiro piscante estampado na fachada do teatro.

Pipocando fogos que formavam matizes de tons suntuosos.

Embandeirado, como festa de quermesse na praça matriz.

Abriu-se a cortina e os versos bailaram virtuoses no cenário

O coral entoando altas rimas a cantar melódico e meloso.

Rufam-se os tambores, pulsam os desejos, treme a carne.

A emoção partilhada em conluio rompe a quarta parede.

O palco abarca no teu seio todo o universo, todo o mundo

Como caixa mágica onde brotam figurinos e personagens

Como lugar no espaço onde a literatura se torna vida, e é

Ali onde as imagens sentidas do poeta, ganha alma e atua.

Luzes! Versos incandescidos coriscam de um lado a outro

Lazeres afinados rasgando as almas embevecidas de luar

Projétil mortal, perfurantes palavras, lavras borbulhantes

A poesia a devassar o proscenio exibindo a sua luxuria.

Mas, qual drama trágico onde a dor vigora triunfante e dura

Eu Corifeu, peito rasgado, voz embargada confronto o coro

Ecoou o verso na arena atravessando os portais da historia

Empunhando a adaga silente, rasgo o véu, e a cortina cai.

Desperto numa estrada longa e empoeirada, bifurcada.

Os latidos do cachorro longe, talvez na curva do riacho

Percebo o calor do sol na pele e acorda meus sentidos

Recolho do chão os meus papeis soltos que o vento levanta

Os versos apenas os meus, levados embaixo dos braços

E deixo os de encantamento que ficaram na quarta parede.