Escada de Nuvem

Descia a escada como quem desce de um sonho; a escada era feita de nuvem.

Descia com pés de anjo, raspando na escada branca por raspar; a escada era feita de nuvem.

Descia a escada como quem desce de um sonho; toda nuvem precisa, um dia, chover.

E a nuvem choveu.

E conforme a nuvem chovia, ela descia do sonho.

A escada chovia - a escada era de nuvem - e ela descia do sonho com pés de anjo; pés descalços, pés raspando.

Descia a escada como quem desce de um sonho; a escada era feita de uma nuvem que chovia. E quanto mais descia, mais chovia. E quanto mais descia, menos nuvem. E quanto menos nuvem, menos anjo.

E pés de anjo raspam suaves;

pés humanos raspam selvangens.

E pés humanos podem criar calos.

Descia a escada como quem desce de um sonho; todo sonho acaba com o despertar.

E despertou.

E descia a escada de nuvem que chovia com pés de não-anjo que raspavam selvagens e descia como quem descia de um fim-de-sonho.

O sonho acabara, a escada acabara; Não mais era nuvem, os pés não mais raspavam. Despertara.

Sobraram-lhe apenas os calos nos pés.

Ironia! Tudo o que lhe restou do sonho foram os calos!

Não sobrou nuvem, nem sonho, nem anjo.

Só calos - só dor sobra de um sonho findado.

The Dreamer
Enviado por The Dreamer em 19/09/2006
Código do texto: T244331