Escada de Nuvem
Descia a escada como quem desce de um sonho; a escada era feita de nuvem.
Descia com pés de anjo, raspando na escada branca por raspar; a escada era feita de nuvem.
Descia a escada como quem desce de um sonho; toda nuvem precisa, um dia, chover.
E a nuvem choveu.
E conforme a nuvem chovia, ela descia do sonho.
A escada chovia - a escada era de nuvem - e ela descia do sonho com pés de anjo; pés descalços, pés raspando.
Descia a escada como quem desce de um sonho; a escada era feita de uma nuvem que chovia. E quanto mais descia, mais chovia. E quanto mais descia, menos nuvem. E quanto menos nuvem, menos anjo.
E pés de anjo raspam suaves;
pés humanos raspam selvangens.
E pés humanos podem criar calos.
Descia a escada como quem desce de um sonho; todo sonho acaba com o despertar.
E despertou.
E descia a escada de nuvem que chovia com pés de não-anjo que raspavam selvagens e descia como quem descia de um fim-de-sonho.
O sonho acabara, a escada acabara; Não mais era nuvem, os pés não mais raspavam. Despertara.
Sobraram-lhe apenas os calos nos pés.
Ironia! Tudo o que lhe restou do sonho foram os calos!
Não sobrou nuvem, nem sonho, nem anjo.
Só calos - só dor sobra de um sonho findado.