SÚPLICAS DE UM MATUTO PARA O SOL
 
 

                    - Olá! Sinhô Sór, boa tarde. Mai muita boa tarde memo. To aqui ti oiando, oiando. Num sei nem pruquê. Ocê quando ta indo imbora inté parece que fica mai quenti,
mai ardido.
                    - Óia seu sór, eu num to guentando mais o seu calor. Minhas plantação e os meus bichos tamem não.
                    - Dá pro sinhô vê que já num tem mais água no açude? Que as arves num tem mais foia nenhuma? O pasto intão nem si fala. Num tem mais capim e agora nem a marvada da tiririca ta nascendo. Kkkkkk, bem feito prelas.
                    - Mai seu sór, num tem jeito do sinhô pará de vim pra cá tudo dia? De ir pra outro lugá não?
                    - Eu escuitei lá na vila, que tem um lugá no otro lado do mundo que só tem gêlo; qui os homes di lá fais as casa de pedra de gelo. Qui esses homes nunca vê o sinhô. Ah! que a casa deles tem um nome isquisito. Um tarde iglu. I queles come peixe cru. Qui é ingraçado a ropa deles. Qui é feita da pele das focas.
Intão, purisso queu to aqui falando com o sinhô, pra vê si num pode ir imbora um poco. Deixa a chuva vim chuvê aqui pra ajudá a gente daqui da roça. Despois o sinhô vorta. Du jeito qui tá eu e ninhum dos homes desse sertão dorme mais de noite. Eu, si o sinhô qué sabe vô pra roça bem cedinho, umas treis hora da madrugada e trabaio até uma sete horas. Despois quando o sinhô chega quente cum esse calor todo num dá pra trabaiá mais. Só de tardezinha que nem agora que o sinhô já ta se escondendo qui eu vorto pra lida de novo. Mai já num dá pra faze quasi nada. Daí to ficano iguar essa muierada de rua. Durmo de dia e fico de noite acordado. Os otros homes daqui do sertão tamem.
                    Puis é seu sór, o sinhô pricisa mi atende. Tamem sei qui o povo dessas banda do agreste qué fala com o sinhô, mais eles num sabe. Assim ieu to falando pur tudo nóis.

                    - Ah! quiria lembrá tamem que tudo nóis gosta do sinhô. Nois num tá cum raiva do sinhô não seu sor. Nóis qué que o sinhô vorte sempre. Mais que de vez im quando saia e dê um tempinho pra nóis, assim duns quinze dias. Deixe chuvê bastante uns dias pelo menos. Que dê pra nóis enchê nossos açudes; nossas pipas, nossas barricas dágua, que deixa nasce as planta di novo. Daí o sinhô vorta, fica mais uns dias e vai di novo. Será qui num dá pro sinhô faze isso pur nóis?
                    - Seu sór, o sinhô mi discurpe por tá falando ancim. Num vá imbora cum raia de nóis não. Vamus te esperá sempre, pruquê também num vamos vive sem o sinhô.
                    Assim, como que por um milagre, depois que o matuto com a sua simplicidade e pureza de coração terminou suas súplicas e o seu diálogo com o sol, parecendo até que ele entendeu tudo, respondeu zigue-zagueando e escondendo-se lentamente entre as montanhas, quando então veio uma leve rajada de vento e em seguida uma chuva fina. Ali estava acabando a estiagem por algum tempo.
                    “Oh! Bendito sol que nos ilumina.
Tu és de Deus, o mais perfeito calor.
Todo dia a tua luz divina, aquece-nos e nos mostra o amor que de Deus, Jesus sempre nos ensina
a doar aos nossos irmãos com fervor.
Se não tivéssemos você, lindo Sol,
certamente não íamos viver bem.
Até pra pescar um peixe de anzol
do teu calor necessitamos também.
A luz da lua vem de você meu sol,
Astro maior, nosso rei vindo do além”.