Viaje
Wilson Correia
Viajar não é ociosidade vã. Viajar é ócio produtivo, percurso para alguém lançado no mundo fazer-se no melhor de si que vier a potencializar.
“Pedra que muito rola não cria lodo”, dizia minha mãe. E vai se lixar para o lodo? Nem pedra você é?!! Ademais, para que serve o lodo, além de nos fazer escorregar?
Numa viagem você pode deparar com gente e tocar a alma dos diferentes. Prossiga!
Uma negra e tenebrosa brutalidade aqui. Uma covarde indiferença acolá.
Um gesto de acolhida onde menos se espera, mas, também, a exclusão humana onde ela não poderia ter lugar.
Mesmo assim, viaje.
Se não se der à liberdade de sempre estar de malas prontas, não saberá nada sobre a universidade do risco, esse pequeno deus que nos coloca na vida e nos quer à altura dos que sabem que um dia irão morrer. Nem saberá nada da arte de ficar...
Desse modo, enquanto ainda é possível, viaje.
Ouvirá muito por aí: “Seja bem-vindo”, como chegará aos seus ouvidos a intratável palavra lhe afiançando: “Aqui não é o seu lugar”. Que problema tem?
Numa ou noutra situação, você poderá se sentir livre, nada tendo que fazer para que o apego o lodifique em pedra irremovível de aqui e acolá. Nem sendo obrigado a partir. Uma ou outra coisa só faz sentido se for sua a decisão.
Você não é lodo. Você não é pedra. Não tem que parar. Nem é sempre obrigado a partir.
Mas... viaje! Apenas se detenha onde se sentir bem, onde a alma humana desce à pele para fazer-se aconchego para o seu corpo e seu espírito.
Fora disso, estrada... Vá...
E lembre-se: uns são postos na vida a la estátua. Outros são cravados na existência para palmilhar o avesso desse mistério chamado existir.
Então, ali onde satisfação e desejo se cruzam será o lugar aonde poderá voltar –não sem antes ter andado o suficiente para ter aprendido o sentido do permanecer.
O sentido do pertencer.