MATIZES URBANOS

Carros circulam enlouquecidos pelas ruas, liberando ruídos horrendos, que estouram tímpanos! Tamanha a agressividade dos movimentos, que mais se assemelham a feras predadoras à caça de comida, prestes a se devorarem mutuamente. Ágeis e bravios, é como se possuíssem vida própria. Vida em que o poder da força bruta reina absoluto! Força que restringe seus condutores a condição de meros escravos, patéticos escravos...

Edifícios gigantescos, com seus robustos corpos de concreto e assustadores dentes de vidro, sufocam o espaço e encarceram o ar agonizante, sorrindo sarcasticamente para a extensão que dominam. Por entre os dentes, centenas de seres humanos mastigados e apavorados!

Lojas, bancos, sinais de trânsito, buzinas, apitos, anúncios e pessoas, muitas, muitas pessoas que andam apressadas de um lado para outro, como se numa busca urgentíssima e secreta. Ansiosas, trazem feições angustiadas de temor, ameaça e solidão nas faces e nos gestos. Suores de martírio! São como robôs programados a esmagar o tempo com fúria. Locomoção e sentimentos mecânicos...

Quais os motivos de tanta tormenta?

Por que, pela sobrevivência, soquear ao invés de afagar?

BHte, 1994.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 13/09/2010
Reeditado em 10/05/2011
Código do texto: T2494683
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