Verdades e Veleidades IX

As angústias das palavras

A angústia sobre o quê escrever. Ah! Este terrível dilema de começar, embarcar nessa nau sem volta; e abrir caminhos que nunca serão nossos. Atrás seguirão passos de aclamação, discórdia... Passamos a ser mero coadjuvante de nossos pensamentos; expostos aos mais desencontrados conceitos de um mundo cada vez mais cheio de dilemas: dilemas morais, éticos, dilemas espavoridos de conceitos distante do metafísico...

As palavras brotam, mesmo diante de nossa descrença... Às vezes, elas vêm solitárias; em outros momentos, aos torrões... Por instantes, entravam no nosso confronto entre dar ou receber. Passamos, então, a questionar a dualidade da nossa alma entre ser simples ou pedante de conhecimentos, ser arrogante ou humildar-se ante à sabedoria dos brutos, ter preconceitos ou tornar-se vítimas de nossas próprias ações...

Com o tempo, depois do arremate primeiro – já domadores de textos “chucros” - buscamos sempre a próxima sangria, pensando ser o mais inteligentes dos seres... Como dói nossa ínfima vontade de perdurar. Iniciamos, assim, nossa intima guerra do confronto entre o ser e o ter: ser por não ter; ter por não ser... Substitutos que se digladiam em buscas efêmeras de conhecimento. Porém, eternas, e nem sempre ternas!

Ah! Como somos vítimas da nossa ingenuidade. Sempre arremetendo palavras sem volta; arqueiros arquétipos de confrontos inevitáveis – recebendo na carne e na alma o repuxo do arco nem sempre bem usado.

Dia-a-dia, seguimos adentrando em mar tenebroso. Seguimos em uma nau frágil rumo ao naufrágio de antigos conceitos subjetivos. Queremos que se dobrem aos nossos pés aqueles que não degustaram de nosso aprendizado... Como somos ingênuos ante ao nosso pedantismo de conhecimentos vãos; como nos enganamos ante as nossas câmeras de arestas limitadas; como nos sufocamos vendo a simplicidade da maneira simples de viver daquele que não se enfeitou nas ruas com livros de capas grossas; como passamos a sofrer por termos a certeza de que não somos donos da verdade...

Com o tempo, desprezamos explicação daquilo que não entendemos! Resguardamos significados esdrúxulos para conhecimentos simples que navegam em águas calmas de sobrevivência Tornamo-nos parte melancólica de um navegante solitário ante suas palavras de conforto: “Tenho verbosidade; logo, porém, existo...” Do outro lado da aquarela, enrolado em simples trapos de noite, alguém sussurra para a noite em sua isenção: “Tenho manto; logo, porém, sobrevivo...”

Ah! Como doem as palavras mal ditas, mal escritas; e como gozamos com um simples ponto que finaliza textos inacabados; enredados, muitas vezes, por inúmeros conceitos de existências passadas. Pobre de mim rele mortal, moribundo ante a borda do sepulcro de infinitas palavras prontas a se reencarnarem na ignorância do pedantismo do nosso rele saber.

Hoje, quero apenas o conforto das palavras que nunca serei capaz de escrever!

Kal Angelus
Enviado por Kal Angelus em 17/09/2010
Reeditado em 17/09/2010
Código do texto: T2503419