Restamos nós

Somos nós, sobras e restos.

Você, mutante de si mesma,

eu, travesti do que não presto.

E procuramos ainda, infelizes,

a felicidade que foi embora.

De tempos em tempos,

sorrimos e nos saciamos

no amor de meia hora;

envergonhados, dormimos.

Nosso desamoroso abraço,

tão frio, que nos queimamos,

não serve aos nosso encontros.

No entanto, sempre teimamos.

Somos nós, restos e sobras.

Você, escondida em teus cantos,

eu, enfiado em minhas dobras.

Assim, sorrimos nossos prantos.