ONDE SEMPRE QUERO IR
Venham... venham relâmpagos, e raios, e coriscos
Fustiguem e habitem este eu inacabado
Entrem pelas janelas sem vidraças
Pelas portas escancaradas,
Pelas paredes sem telhado
Estalem tudo... partam tudo... arranquem tudo
E deixem nada em todo o lado!
Atirem-me à vontade as tais pedradas.
Ah!... arranquem, arranquem tudo e estilhacem...
Estilhacem os vidros que não houve
Arranquem as cortinas que não há
Sim!... massacrem-me os ouvidos com satânicas gargalhadas.
Dobrem-me os caminhos que por mim tão desvendados
Os meus passos percorreram já mil vezes
Em estradas poeirentas... enlameadas
Pelos montes, e serras, e quebradas
Fizesse chuva ou mesmo vento.
Troquem-me as voltas. Sim, troquem-me as voltas
Enleiem-me em vossas curvas mal traçadas
Tentem que não seja o que sou, que meus passos me levam,
E levarão,
Onde sempre quero ir... (e sei que vou!).
Eu prefiro, eu defino, eu restrinjo, eu escolho...
E nas derrotas é que avanço!
Mas recuo tantas vezes apesar da minha idade
Pois saber reconhecer que se perde, é que é ser Homem!
E chorar também é de Homem!...
E parto, e começo, e recomeço outra vez de renúncia em renúncia
E luto, e esfrangalho este meu ser na procura da verdade
Luta em luta mesmo até que perca a guerra
Não sou homem para perder e ter descanso.
Muito menos para perder ou ser vencido...
Lutei, e luto sempre, e aguerrido,
E lutarei...
Ainda que de Nenhum-Reino eu seja Rei.