AMANHECENDO
Está amanhecendo,
Mas dentro de mim a noite é longa
Como o caminho das estrelas.
Um homem solitário recolhe sonhos
Na esperança de vendê-los
Quando o sol cair sobre a praça.
Não tenho um cigarro e até o galo fez greve:
Só voltará a cantar
Quando o vento devolver a madrugada
Adornada com as flores da saudade.
Está amanhecendo.
As sombras rastejam sobre os ladrilhos dos prédios
Enquanto cortinas amareladas prolongam a escuridão,
Para que a última estrela apareça dentro dos lençóis molhados,
E a mulher enfim possa despertar para a vida.
Urge um cantar de pássaros
anunciando as boas novas.
Na manhã que se anuncia,
Repicar de sinos não seria exagero
Saudando enfim a clarividência
que liberta o homem.
A noite não morre,
traslada-se em busca de sonhos
E volta repleta de poesia,
voluptuosa, fogosa, ardente.
Privilégio dos notívagos
e dos marinheiros ávidos.
O homem recolhe a sua fé
e descobre a alegria da liberdade.
Amanhece lá fora,
Dentro da noite interior ele
Constrói uma escada com a madeira de uma cruz
Para alcançar o seu lugar ao sol.