AMANHECENDO

Está amanhecendo,

Mas dentro de mim a noite é longa

Como o caminho das estrelas.

Um homem solitário recolhe sonhos

Na esperança de vendê-los

Quando o sol cair sobre a praça.

Não tenho um cigarro e até o galo fez greve:

Só voltará a cantar

Quando o vento devolver a madrugada

Adornada com as flores da saudade.

Está amanhecendo.

As sombras rastejam sobre os ladrilhos dos prédios

Enquanto cortinas amareladas prolongam a escuridão,

Para que a última estrela apareça dentro dos lençóis molhados,

E a mulher enfim possa despertar para a vida.

Urge um cantar de pássaros

anunciando as boas novas.

Na manhã que se anuncia,

Repicar de sinos não seria exagero

Saudando enfim a clarividência

que liberta o homem.

A noite não morre,

traslada-se em busca de sonhos

E volta repleta de poesia,

voluptuosa, fogosa, ardente.

Privilégio dos notívagos

e dos marinheiros ávidos.

O homem recolhe a sua fé

e descobre a alegria da liberdade.

Amanhece lá fora,

Dentro da noite interior ele

Constrói uma escada com a madeira de uma cruz

Para alcançar o seu lugar ao sol.

henrique ponttopidan
Enviado por henrique ponttopidan em 27/09/2010
Reeditado em 06/08/2011
Código do texto: T2523375