Últimos Versos

Sou romântica. Ainda escrevo utilizando canetas e cadernos, ainda capricho na caligrafia quando faço versos de amor e quando me veem furiosos, marcando as páginas seguintes , revelam-me nestas marcas.

Estes são os últimos versos que escrevo neste caderno, e releio um à um, escritos anteriormente, em alguns não reconheço o dialeto intimo criado por sentimentos mordazes.

Penso em quantas palavras foram já foram escritas e as rimas que não deram certo, destoaram na prosa e agora relidas, vejo que tudo deu certo! Penso também nas malditas palavras que não chegaram e deixam meus versos incompletos, incapazes de reproduzir os meus pensamentos, deixando assim minhas emoções ocultas. Mas que culpa tenho eu? - Me pergunto e reconheço que as palavras usam-se de mim, como eu uso-me delas para existir.

Essas palavras cúmplices da minha existência, ficam presas a mim e eu a elas, como se fossem um cabo de salvação, muitas vezes, a minha própria razão e concluo que os medíocres escrevem sobre o

que desconhecem e eu escrevo de mim, para melhor conhecer a minha mediocridade.

Fecharei o caderno, assim como se mais um ciclo se fechasse, um sepulcro, que leva parte de mim, talvez ínfima partícula de tudo o que eu sou, dos amores amados, perdidos, desprezados e outras razões pelas quais escrevi sem a pretensão de ser nada além do que sou quando me transformo enquanto escrevos essas palavras.

Talvez o último e menor de todos os poetas.

Cristhina Rangel.

Cristhina Rangel
Enviado por Cristhina Rangel em 02/10/2010
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