O MASCATE.

Chagaspires

Todo o dia lá pela boquinha da tarde, passava ele a bater sua matraca, chamando a atenção de tudo e de todos.

Era o mascate; espécie de vendedor ambulante que vende suas mercadorias de porta em porta.

Levava em sua maleta cosméticos, entre eles brilhantina de variados tipos e aromas, óleo de cóco, de capim, cheiro verde, perfumes com odores fortes, sabonetes, alguns produtos para pele e outras quinquilharias para beleza.

Como se não bastasse toda aquela zoada, ainda havia uma cantilena que lhe era peculiar. Gritava com todos seus pulmões:

“Quem tem coceira”?

“Quem tem CÊ- C”? (catinga no sovaco).

“Quem tem chulé no pé”?

E matracava cada vez mais forte, seu instrumento de comunicação.

O que ele queria era chamar a atenção das pessoas e vender suas mercadorias.

Como o meu cabelo e dos meus irmãos eram crespos pela genética advinda da hereditariedade de nossa querida mãe, ela tratava de reparar a causa com uma forte doze da brilhantina que o mascate apregoava aos quatro ventos. Servia para domar cabelos rebeldes.

Já havia em cima da penteadeira la do quarto, um frasco redondo e de boca larga com tampa de galalite que servia para colocar o tão engordurado produto.

Ela entregava o vasilhame ao vendilhão que o enchia até o gargalo e intimava o homem com voz mansa: “Coloque um cheirinho verde”; pagava o preço exigido e pronto, daí por diante, logo após o banho da tarde, os nossos cabelos ficavam cheios do tão maravilhoso produto.

Ainda me lembro de certa vez que fui desfilar pelo colégio Padre Felix onde estudava, nas olimpíadas de verão no Campo do Sport Clube do Recife, e esperando entrar em cena em uma das raias, tentei ajeitar o cabelo, mas ao procurar no bolso o pente, verifiquei que o havia perdido. Então resolvi pedir emprestado o pente do meu amigo Adelino.

Ao passá-lo na cabeça fiquei todo acanhado, pois o instrumento de pentear voltou cheio da brilhantina colocada em meus cabelos pela minha saudosa mãezinha.

Foi um problema para limpá-lo, e o colega preferiu que eu jogasse fora o pente emprestado.

Quando pude decidir o que fazer por conta própria, nunca mais coloquei o famoso produto em meus cabelos, pois todo vez que me recordava do fato voltava a sentir o vexame pelo qual passei naquele verão de 1962.

Coisas de adolescente.

Chagaspires
Enviado por Chagaspires em 08/10/2010
Reeditado em 16/07/2011
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