EU E A BRISA

EU E A BRISA

(Lázaro Faleiro)

Tonto de tantos odores, cantos, encantos e cores, a encontro ali na floresta. Fazendo festas, tão esbelta, envolvente, transparente, traquinas, tão feminina em fantasias, fricotes, afagos... fugidia...

Fluente, latente, contundente, no peito da gente o amor não cabia...Eu e a brisa... Pura poesia! Paixão doentia?

Amenidades mil. Ardil que nos ata no ato e fato de amar. Caso de acaso, azar, felicidade, feroz fatalidade? A solidária brisa e um ser solitário da cidade.

Infinito fio com mó e muito nó. Sente-se o amor só.

O amor do homem e a brisa a paixão eterniza; afasta espinhos, abre caminhos ao paraíso de cada um...

No dia seguinte, o acinte, a confusão. Eu a brisa no lotação.Vento vadio, em rodopio, abre blusas, arranca botões, sugere sustos, suspende saias, mostra peitos, pernas, púbis e outros rincões do corpo. E na repartição? O requinte de um acinte, um senão. O incidente, incoveniente, mexendo com a gente: A brisa moleca, tão sarambeca, fazendo peteca com os documentos. Tudo atirado â tirania de outros travessos ventos.

Perder sustento e trabalho ante a traquinagem e molecagem de minha namorada? O remédio foi prendê-la na privada daquele prédio.

No vaivém da vadiagem, fazendo pousadas, paradas e viagens; vaporosa, transparente, envolvente, adolescente; a brisa me faz festas, companhia; preenche meus dias de maravilhas, afasta o marasmo, a melancolia... Ante seus rumores, reflexos, amplexos e humores, a casa cavernosa, escura, vazia, cheia de pó, enche-se de vida, ar, cor, ouro só!

Sorrisos, guizos, no sem juízo do jogo do amor; a brisa, lençol em caracol, transparente, envolvendo a gente no aconchego de chamegos e carinhos, abre caminhos dentro de mim. Tudo se transluz ao brilho de sua benfazeja luz! Cabeça, corpos cativos de carícias mil; mãos suaves, toque sutil; sinuosa, sensual, suave a brisa, um brinco de brandura, brinca com meus desejos, se estende sobre mim, num sem fim de insinuações e sutilezas; sonora em silêncios, solilóquios e beijos.

Eu, um sim e um não, em suas mãos. Seus afoitos afetos, afagos de fada, essência sutil de seu coração. Mimos, amores de mulher. Mãos manhosas, macias, no sem juízo de meus dias! Me embaraço e me refaço na sutileza de seus abraços; me perco e me encontro no confronto desse encontro; me sinto muitos e um só; sou prodígio, pedra e pó! Nesse nada e nesse tudo, me confundo e me desperto tão incerto e tão esperto no chilreio, no arreio e no chicote do chamego da chanhenta brisa que nossos momentos eterniza.

Imprecisa, excêntrica, a brisa. Amá-la é como amar mil mulheres. Amor de brisa, contínuos contatos, cócegas, cochichos, confidências e reticências; desvelos e novelos; pedaços de pensamentos que se ascendem ao firmamento e se transformam em estrelas.

Às vezes, volúvel, vadia, a brisa tripudia, brinca de mulher comigo, no abrigo de mil sutilezas. A brisa, bruxa ou princesa?

Na delícia de mil carícias, delicadezas, me acaricia... Ou na bronca e broca, bruta brutalidade, malvadeza, teimosia... me asfixia... Amena, amante, infante... ou dura, delirante, doente, doida, brava em bravatas, bate portas, quebra móveis, transforma tudo em cacos; grita, se irrita, dá sopapos, faz estrepolias... Loquaz e fugaz, num zás, fala alto, assovia; foge, desaparece se esquece da gente; vai e volta, na volúpia do desejo, quente em abraços e beijos ardentes; fera na cama, me esgana, me consome, me cospe, me come, me ama, me dá muito prazer, pra depois partir sem se despedir, partindo-me o ser.

Na inclemência da contingência de tanto tensão e tesão, a paz, a essência do ser, o nó e a meada do tudo e do nada, o âmago do bem querer, o senão e a razão de tanto amar, se entregar e morrerr de amor, o elo entre o prazer e a dor, capaz que nunca vou encontrar. Quiçá na brisa, suave, sutil, imprecisa, não exista esse lugar secreto, perfeito, predileto, elétrico, magnético, presente e pretérito de gozo, guizo e pouso, ponto de encontro de dois corações, na voraz volúpia de imponderáveis paixões?

Depois de muitas escapadas, minha namorada, às vezes, volta humorada, perfumada, apaixonada, sutil, bem feminil; em outras tantas e tantas traz o vezo de trazer-me tragédias, tiranias, hostilidades mil: Violenta, virulenta vocifera, berra, bate, grita, agita, assovia, chia em queixumes, quebra-quebras, azedumes, estrepolias...

Para não vê-la e não tê-la tão volúvel, vadia insconstante, impertinente e vazia, torno-me violento, trato de tragá-la e aprisioná-la dentro de mim, assim no sus do movimento de veloz momento. Ela tanto transtorno traz ao meu intestino: tine, troveja, esperneia, esbraveja, grita, anda, desanda, volteia que acaba saindo no susto sem sentido da velocidade e voracidade de um vento escapulido, barulhento, fedorento, bandido!

Penso botá-la num balão, para ir-se e sumir-se na amplidão da imensidade... E depois? A dor da saudade, o coração? Não seria a solução para um apaixonado que quer o objeto de seu afeto sempre a seu lado. Aprisiono-a então num aparelho de ar condicionado, para tê-la toda inteira, só quando eu queira e sempre vê-la amena, serena, sem querelas, escapadelas e cuidados.

Lazaro Faleiro
Enviado por Lazaro Faleiro em 15/10/2010
Código do texto: T2559207