Alvorecer
(Najah ÐL®)
De nada me valeria ultrapassar a barreira dos anos,
vivenciar amores outros, galgar o infinito, se não pudesse
encontrá-lo para comigo cruzar os portais.
Em um tempo, antes do nada, quando os ocasos se
deitavam à sombra de tantos deuses, nosso caminhar
era feito pelas alamedas dos sonhos. Ali traçamos a
rota para trilharmos as linhas de nossas mãos.
Mas o senhor das horas, em sua luta com os homens,
alterou as marés e, enfurecido, devassou todos
os caminhos iluminados, remetendo-nos ao breu.
Pelo escuro seguimos, almas errantes e erradas de escolhas,
até o limiar de todas as portas do viver.
E tantas foram as estradas, e ao pó do caminho que
nos cobria o rosto, misturamos nossos corpos a muitos corpos e trocamos as lembranças por outras; efêmeras, transitórias.
Seguimos sozinhos um do outro e nos perdemos.
Dos universos fragmentados de mim, surgiram muitos eus
apartados que tombaram ante a menor brisa. Errante, segui
em paralelo, cruzei as noites sem vislumbrar nenhuma manhã.
E carregando a alma morta pelo antigo do mundo, ceguei meus
olhos na claridade de um sol e, como os loucos que possuem
as certezas todas, segui trôpega pelo balanço de uma ampulheta
e o encontrei.
Resgatei sua alma nas distantes areias do tempo.
Encontrei-a intacta, plena de amor, e a reconheci.
Alvorecemos.