Alvorecer

(Najah ÐL®)

De nada me valeria ultrapassar a barreira dos anos,

vivenciar amores outros, galgar o infinito, se não pudesse

encontrá-lo para comigo cruzar os portais.

Em um tempo, antes do nada, quando os ocasos se

deitavam à sombra de tantos deuses, nosso caminhar

era feito pelas alamedas dos sonhos. Ali traçamos a

rota para trilharmos as linhas de nossas mãos.

Mas o senhor das horas, em sua luta com os homens,

alterou as marés e, enfurecido, devassou todos

os caminhos iluminados, remetendo-nos ao breu.

Pelo escuro seguimos, almas errantes e erradas de escolhas,

até o limiar de todas as portas do viver.

E tantas foram as estradas, e ao pó do caminho que

nos cobria o rosto, misturamos nossos corpos a muitos corpos e trocamos as lembranças por outras; efêmeras, transitórias.

Seguimos sozinhos um do outro e nos perdemos.

Dos universos fragmentados de mim, surgiram muitos eus

apartados que tombaram ante a menor brisa. Errante, segui

em paralelo, cruzei as noites sem vislumbrar nenhuma manhã.

E carregando a alma morta pelo antigo do mundo, ceguei meus

olhos na claridade de um sol e, como os loucos que possuem

as certezas todas, segui trôpega pelo balanço de uma ampulheta

e o encontrei.

Resgatei sua alma nas distantes areias do tempo.

Encontrei-a intacta, plena de amor, e a reconheci.

Alvorecemos.

Najah DL
Enviado por Najah DL em 07/10/2006
Reeditado em 01/09/2008
Código do texto: T258634