Confissão Em Tarde de Domingo

Recomendo, a partir de hoje, que a vida me ceda seu alçapão de ladainhas a acomodá-lo em minhas lembranças fúteis, em meus presépios de areia e em meus sonhos de cabide.

Todas as clausuras nefróticas abrir-me-ão esquinas a preencher de tule as frestas. Que nestes vértices melodramáticos eu possa esticar uma rede de juta branca a me prestar de enxergão e a me fazer desistir de usar os óculos violentos do tempo; quiçá nestas aventuras, eu me tenha mais comigo.

Peço à detentora dos meus açoites, uma alíquota de boa ventura. E, se não são damascos os dias nem dão carrascos em pias, que tenham holofotes nos faróis do mar a me tecer a nigérrima veia riquíssima em hemoglobina, podendo inserir-lhe acúleos, pratinhas e cicuta.

Meus lesos e rotos verdes de concha e semicúpio dêem-me a paz solta no cativeiro, ao revés duma lousa cheia de brasa, para que eu goze pelos momentos de lâminas ocas, para que eu teime sobre as manhãs, com os gerânios na janela, para que eu queime a quentura do meu corpo quando o amargo da glote vier me asfixiar.

Ora donzela de toda a minha obra, convenha comigo que o melhor que almoças é o brandir que ceio, e em roscas, láparos e afins tenho sobriedade e tudo de mim a abrandar, a aspergir e a esconder.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 08/10/2006
Reeditado em 08/10/2006
Código do texto: T259592
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