Rádio

Era como se ela dormisse sempre.

Não fizesse nada que ela realmente quisesse. Era empurrada praquela mesma coisa se todos os dias; os mesmos pensamentos, os mesmos lugares, que sempre ia porque as pernas já sabiam o caminho decor. Era até bom: andava tão cansada que, pegar o caminho errado por falta de atenção seria energia importante desperdiçada.

O mais engraçado é que sentia que podia mudar as coisas. Tinha potencial, falavam pra ela. Só não sabia onde ele estava.

Mas era de fases, como a lua. Em certas ocasiões, brilhava como o Sol. Chorava como a chuva, e dava risadas como se estivesse eternamente dançando sozinha no quarto.

Se deixava levar pelas músicas que ouvia, e sabia que elas lhe davam força pra mudar qualquer coisa que sentisse, então mantinha o rádio ligado; SEMPRE.

A vida tinha trilha sonora, era fato. Então ela esperava sempre a outra música. Trocava de estação pra ver se achava uma mais animadinha, que a impulsionasse a mudar também. Que conseguisse fazê-la esquecer de onde estava e a fizesse começar a flutuar em pleno meio dia. Que grudasse na cabeça feito chiclete no sapato, e a deixasse até incomodada por não conseguir tirá-la da cabeça.

E assim ia trocando as estações. Deixando algumas gravadas na memória do rádio, outras não sintonizavam nem por reza brava. Mas ela tentava sempre.

Marcela Brunelli
Enviado por Marcela Brunelli em 10/10/2006
Código do texto: T261029