Memórias

A falta de memória é mesmo uma vida dupla.

Pode-se ler duas vezes o mesmo romance, chorar diante do mesmo filme, rever a mesma paisagem, saudar a mesma pessoa e amar o mesmo homem com o coração pulsando como quem descobre o desconhecido.

Aos inumeráveis problemas pela falta de atenção, classifico o esquecimento como pura distração.

Trazemos lembranças que se confundem entre elas, desafiando-nos a momentos de regressão...e outras que ficam fielmente registradas, pois cada célula do nosso corpo tem a sua própria memória, dentro de cada recordação.

O nariz lembra certos odores, fragrâncias, aromas, perfumes...

As mãos lembram o toque, a textura, o calor, o carinho...

O pescoço lembra o beijo escorregado, os dedos na nuca...

Os pés lembram o macio, o quente, o frio...o caminho.

Os olhos lembram tudo...

O coração lembra o que foi mais importante, como o primeiro beijo,

o nascimento do ciúme, a primeira ausência sentida, a primeira briga,

a primeira volta, a primeira partida.

O cérebro, por sua vez, não tem boa memória.

É amnésico, ingrato e distraído, e assim, sem sentido, as sensações mais intensas são esquecidas tão depressa que se transformam em sonho.

E nessa dualidade frustrante, da qual os amantes dependem, o coração que bate e o cérebro que pensa, de amar nunca, nunca mesmo,... se arrependem.

AURORA ZANLUCHI
Enviado por AURORA ZANLUCHI em 15/11/2010
Reeditado em 06/11/2011
Código do texto: T2616945
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