Sonho

Tudo acabou, e não teve início, não teve meio. Acabou como uma vida às avessas, que nasce do fim e morre no começo. Não teve dor, não teve gozo, teve um gosto de nada e desejo de tudo. Foi o desencanto do encanto, uma nota só, feito sinfonia que descerra o silêncio e engole a música, sufoca o som, deságua a surdez de quem nunca falou, dialogou, expressou. É o fim do começo, do sentido primeiro, sensação inversa de sentido, o não sentido que dessente o mundo, a vida, o amor. Não é tristeza, é o avesso do sentir, é a falta, é a ausência, é a presença de um não estar, um estar suspenso. Era vão, desfiladeiro, era nada que de tudo padece.

Gabriel Calixto
Enviado por Gabriel Calixto em 12/10/2006
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