QUANDO SE ESVAI A POESIA
Quando se esvai a poesia
Murcham ledos sentimentos lidos
Tolhe-se a dor.
No contemplar do astro
Lança rastro interrompido e cego
Sem cintilo, sem imagem, sem o nada.
Quando se esvai a poesia
Parte de mim, falece comigo
Raiz às pétalas, desodorizam-se.
É triste, companheiro, é triste!
Quando se esvai a poesia
Exsuda o alto coxo traço de fleimão.
Pulveriza-se a cicuta, como forma de irmã
A tolerar as ojerizas e os cios
Não há nada a apreciar... não há nada!
Quando se esvai a poesia
Bestifica-se e se colhe cáustico fel
A vida, o colostro e o mel... emudecem.
Recorre-se ao espelho...
Mas, quando se esvai a poesia
Perde-se a essência... e, daí:
Morre-se por mais um dia
Grita-se no átrio silêncio
Torna-se amorfo ser e... ponto.