Esperança

Quem viu, não vê mais. Foi enterrada ontem, ao meio-dia, meio-pau, meia-vida. Sem platéia, sem velório, sem aplauso, sem poema. A esperança esvaiu feito água de chuva, lamacenta, emporcalhada, lágrima entristecida, desaguada em vala comum, em terreno baldio, sem tambor de funeral ou compasso de melancolia. Foi, desfazendo o dia, recriando o escuro, escuridão, descortinando o palco sombrio da desilusão, em que se deu o falecimento. Esperança desiludida de esperançar, desesperançada de esperar, desacolhida do encanto, desencantada de seu feiticeiro. Morreu-se como uma mágica, desaprendida pelo mágico, desfeita na cartola do peito, no desterro da alma, no compasso uníssono e fúnebre da racionalidade humana.

Gabriel Calixto
Enviado por Gabriel Calixto em 13/10/2006
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