Desnorteado

Desnorteado, me encontro, a cada dia que passa, cada vez mais, desnorteado...

É complicado... ontem até perdi o meu ponto, desci duas estações antes, tive que esperar outro ônibus. E tudo por que, meu Deus, por quê?

Porque estou cada vez mais, e ficando completamente, desnorteado. Há tanto tempo, o coração avulso se encontra, sem paciência para bater, atrapalhando-me de pensar.

Não consigo lutar, penso que devo desistir, não importa o que faça, toda vez que lhe vejo, sinto meu coração balançar. Tento firmar a visão a frente, mas não consigo concentrar-me. Não consigo desviar o olhar de seu sorriso largo, e quando fecho os olhos, é nesse mar tépido, nesse sorriso, nesses olhos de profundo negror, nesses cabelos castanhos escuros que meus pensamentos se embaraçam, é de onde não consigo fugir, e me perco a devanear.

Lhe conheci ainda ontem, lhe conheço desde criança, lhe conheço há quatro anos, ou a dez... meses! Pouco importa, o tempo é relativo. Em um dia, um encontro, fui cativado e cativo por uma vida. Seu rosto, seu jeito, seu riso, seu olhar, são muitos e um só, escraviza meu pensamento, como escravizou meu coração.

Me faz sorrir, e me fez chorar, então. Me iludi e fui iludido, me machuquei com as dúvidas, e fui machucado com as certezas. Fui-lhe peça importante em sua vida, enquanto me entregar assim, de bandeja, foi-lhe útil. Acreditei não poder viver sem, ao menos, ver-lhe o sorriso, sofri muito o medo de perder todo contato consigo. E quando começo a me acostumar com sua falta...

Vejo-lhe novamente, ainda mais linda que da última vez, sinto-me novamente perdido em devaneios loucos, fico novamente cativo daquele olhar, daquele sorriso. Sinto inveja de quem da sua companhia porventura esteja desfrutando. Sinto meu coração descompassar, sinto-me perdendo o chão. Não consigo mais ficar sem lhe ver, apenas lhe ver. Mesmo sem ser visto. Mesmo que não me dirija a palavra, nem ao menos para dizer “oi”.

Não sei mais nada, não tenho mais certezas. Faço coisas sem esperar-lhe resposta, apenas as faço. Quero-lhe, apenas isso. Não importa como. Não importa se é possível. Nem se não fará possível. Desnorteio-me e continuo a amar-lhe. Sozinho. E mais desnorteado que nunca.

Quero-lhe e amo-lhe. Desnorteado, sem esperanças, sem expectativas, somente querendo-lhe o mínimo possível de atenção. Ou não... sonhando com o que tivemos – ou não – com o que teríamos e nunca tivemos. Sonhando em ter-lhe e acordando com um sorriso idiota de canto. Sem saber o que pensar, sem concentração, sem norte, sem chão. Desnorteado eu fico, desnorteado estou.

Ayrton Mortimer
Enviado por Ayrton Mortimer em 30/11/2010
Código do texto: T2645954
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.