COM SENTIMENTO

Estou aqui no computador e escuto um barulho lá fora,

vou ver o que é; parece que alguém mexe no jardim,

ouço o barulho da corrente que separa a calçada da en-

trada...

Abro a janelinha da porta e vejo uma mulher que já conhe-

ço, já a ajudei algumas vezes...ela então se assusta, está

terminando de roubar uma rosa do meu jardim, era a única

que havia nesta manhã chuvosa...em sua mão há também

uma hortênsia azul que também havia roubado.

Ela me pede desculpas, diz que gostava muito de rosas,

que ia levá-las para enfeitar a casa...diz que está grávi-

da, dele...e mostra o seu companheiro que está mais

para o lado; diz que o bebê vai nascer em março e que

quer um dinheiro para comprar leite...

Eu digo a ela que as flores são para eles mesmo, que não

tem importância...Vejo a situação deles, ele um pouco bebado,

ela muito magra...Lembro-me de dois poemas que fiz: Cúmplice

e Caso de ciúme, em que falo no roubo de uma rosa e de uma

linda hortênsia, retirados em dias diferentes de meu jardim...

Penso, que diante de tamanha pobreza e dificuldade de vida

minhas flores nas mãos dela podem ser uma oferenda...

Vou buscar um litro de leite...entrego a ela, peço para que

volte em fevereiro, quando voltamos a trabalhar no rou-

peiro, para ela ir até onde costuramos e se cadastrar lá e

fazer o curso de gestantes para depois ganhar o enxoval

para seu bebê...

Ela me olha, me escuta e percebo seus olhos cheios de lá-

grimas...

Então ela coloca a corrente do jardim no lugar, segura

as flores, se desculpa novamente por tê-las pego e segue..

Eu fecho a janelinha....e volto aqui para o computador...

Que bom poder ter este jardim....em flor!

Adria Comparini
Enviado por Adria Comparini em 30/11/2010
Reeditado em 01/12/2010
Código do texto: T2646081
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