Caleidoscópio

(Najah ÐL®)

Ouço a música e ela me vem pelos dedos, pelos olhos. Ela vibra na eletricidade do teu corpo e suas ondas me abalam o domínio da realidade. Me tremem as mãos.

E eu a quero para mim. Quero a vibração das notas na palavra. Quero a menor partícula desvendada.

Quero estar no dia, no carro, na rua, ser guia, o cigarro, a tua, a outra, a vadia, a puta, o panfleto, a notícia, a nota que vibra.

Estou fora, no dentro que te acorda na noite, que te rompe a letra, que te oferta o açoite que desperta. Sou tua insônia. Tua bronha.

Estou na reza sem freio do teu crente, o tapete do chão do teu ateu, sou o olho voltado pra nenhuma Meca, sem bússola ou direção.

Eu sou bar e um copo e uma branca. Sou o pó e a névoa. Sou magia, sou poema, sou a rima partilhada, o sonho, o esquema, a trilha, a cavalgada. Estou na euforia, no pensar, no acreditar. Estou junto. Faço parte.

Você me trouxe. Chamou meus demônios. Cantou meus anjos.

E a tua lira é melodia de céu e abre a cancela, a algema, a grade, destranca a porta, o cadeado, a janela. E balançam as cortinas que descortinam o horizonte. Há todo um mar e azul e nuvem. Há um universo secreto em plano de fundo misturando montanhas e ilhas e a vida seguindo é política, é lida, é canção, e a vírgula que falta corre em realidade e mistura-se às águas às letras às gretas às partituras ao teatro ao palco ao jornal às damas às nuas aos homens seus paus seus cantos o lobo o mau...

Entramos no sonho. Saímos da vida. Voltamos pra vida. Dividida, sentida, curtida, passada.

Estou perdida no Leste e o teu Norte me aponta o sonho.

Sonho do sonho. Realidade de acordar para não ser. Mistérios. Segredos. Erros e acertos. Engodos.

Me abaixo para ser mar, para receber os rios e, se me faltam, eu me subo e me deixo ser ilha. E fico só.

E vem a lira... e recomeça.

Najah DL
Enviado por Najah DL em 18/10/2006
Reeditado em 01/09/2008
Código do texto: T267276