Dor inox, tramontina.

Dor.

Dor é isso assim que dói.

Na gente.

Né?

É a expectativa do riso, da cócega, do prazer

Sendo esmagada pela agulha do tear da desgraça

Descosturando e recosturando aquele mesmo maldito ponto

e te lembrando e te remoendo e te reculpando matando rematando...

dor é isso.

E é por isso que dói.

Dói por conta da dor mesmo, mas também por conta do óbvio,

da verdade, da mentira, da dúvida.

Dói pelo acaso, pelo desarranjo

A dor é uma sílaba separada errado,

um hiato solitário, um ditongo decrescente.

A dor é um bocado de amor enferrujado,

Um punhado sangrento de piadas sem graça.

Dor é aquilo que dentro da gente grita quando há topada no pé.

Ou quando se perde um amor.

Dor é a ausência de felicidade.

Ou a constatação de acabar de perdê-la

Dor é um misto de apnéia, conjutivite e iogurte vencido.

Dor é inexprimivel , inexplicável, inexpugnável,

A dor é inoxidável: você chora, chora...

E ela não enferruja, não envelhece.

Não decanta, não empola, não zinabra,

não oxida,

não desagrava.

Dor é o desuso de viver.

Gustavo Alvaro
Enviado por Gustavo Alvaro em 29/12/2010
Código do texto: T2697442
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