Alegria barata

Tentando encontrar o dia perfeito. O momento feito. A trilha sonora da vida. Ou apenas mais uma partida? Uma partida de mim. Então me lanço, me fujo, me resgato no refugio. Procurando sempre um lugar. Alguém dentro de mim com quem o monólogo da existência travar. E não encontro tão fácil assim. O que há de errado, o que há para mim?

Nem livros, nem filmes, nada cessa minha fome. Minha sede. Sede de mim. Ó martírio imperfeito! Via Crucis tão insana! Se não posso sangrar por fora, de que adianta dor tão profana? E assim paro. Rezo um pouco para Deus. Acho que recebi uma inspiração. Algo grandioso. Nada é por acaso, afinal. Coisas me foram postas às mãos. Eu as tomo, como o náufrago toma sua tábua de salvação. Será que foi o romance que li semana passada? Ou o site de relacionamentos que descobri ontem? Ou meu novo hobby? Não sei. Mas sempre desconfio que existe uma tabula de salvação morando dentro de mim. E funciona toda vez que eu me ponho diante das letras. Funciona agora! Vejam! Desfrutem comigo este novo e tão límpido deleite! Que já está indo embora, junto com a prosa, tão curta, tão banal, mas tão salvadora. Digam-me, "que drama mais infame, inodoro e incolor". E eu digo que para mim toda alegria barata tem seu sabor.

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 30/12/2010
Reeditado em 30/12/2010
Código do texto: T2700817