DECLARAÇÃO

No íntimo ele havia esperado por isso, agora deveria achar-se cheio de si, uma declaração daquelas, dita assim, de pronto, o pegara de jeito, acredito até, que meio desprevenido, nem tanto pelo inusitado ato mas, tenho certeza, que a surpresa se resumira apenas em acreditar que depois de tanto tempo de vida, coisas assim, desse quilate,envolvendo corações e fortes emoções, só aconteciam lá, bem no comecinho da vida, quando o fruto verde aguardava ainda, o tempo da semente.

Agora, já maduro, quando livre de qualquer tipo de censura, de qualquer situação de ridículo, quando defendo todas as “verdades”, quando passo a compreender que a plenitude consiste em tentar viver melhor o presente, o tempo restante, fazendo o que se gosta, se a “vida-lida” assim o permitir. Daí pra frente, não há motivos para arrependimentos, é só alegria.

Ela disse a ele: ”Eu te amo” não naquela implosão brusca e adolescente, mas de forma madura, disse-o assim, calmamente...para ofender mesmo,para criar constrangimento e pronto,tinha a voz aveludada de mãe que amamenta, vigilante, prazerosa, consciente.Escolhera o dia,a hora,pensara bastante sobre tudo,arquitetara esses preparativos, coisas que só a mulher sabe, aceitou que não tinha volta,que aquilo era para sempre, resignada tal um destino, já traçado.

Depois de dito, mais que nunca, tivera perfeita consciência que fora convincente afinal, era necessário fazê-lo assim, só podia ser dito daquela maneira, daquela forma, frente-a-frente, diante do outro, dessas coisas compartilhadas, que só surtem efeito assim, desse jeito, sem desperdício de tempo, sem rodeios.

Depois de tantos anos...acreditar no amor se transformou em um compromisso.