Vida roda viva

...E aquela pequena aranha tecia as teias do meu pensamento, enquanto que a roda viva não parava de rodar no som que chegava aos meus ouvidos. E uma nova voz ecoou naquele que tropeçou no céu em seus passos tímidos, erguendo paredes sólidas, plásticas, mágicas do trânsito humano, enquanto que Januária penteava seus cabelos e o mar fazia maré cheia para chegar mais perto de mim. E ele, não sei, se veio do florista, do bar ou do nada, se foi o primeiro, o segundo ou o terceiro, mas antes que eu dissesse não, se apossou feito um posseiro no meu coração. Ela, Carolina, dos olhos fundos da dor, da falta do amor que não existe mais, não viu que o tempo passou em sua janela. E a música do tráfego público soava, e uma bailarina dançava nas notas de Chopin. A roda rodava e ele, na contramão, atrapalhava o pânico perdido de gente passeando atônita, atômica na vida. O trem passava e a sorte/morte esperava na próxima estação. Era o trem da espera da fase/base concreta da música da contramão. Ali eu estava enquanto que a aranha na teia rodava, tecendo os trilhos do trem que andava ao encontro do Pedro, pedreiro, que esperava a volta da música que eu gostaria de ter escrito. A roda rodava, a roda gigante, o pião, o menino, o moinho, a vida que roda tonta na linha sinuosa do trem, que espera atônito a esperança que nunca vem, de Pedro, minha, da sorte, do norte, da aranha, de terminar de tecer aquela teia fina, branca, que observei na janela do meu quarto, naquela noite fria da despedida do inverno.

cibele de castro
Enviado por cibele de castro em 27/10/2006
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