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POEMINHA  DESAJEITADO

Desajeitado , saiu à procura de versos . A alvorada dos gansos dizia-lhe de uma nova manhã. Sonolentas, bocejavam janelas e a neblina de tule embrulhava o carroção de feno.
Sob os pés , submissos azevéns. Um vento frio falava-lhe de outono.
Flores de abril tentaram,em vão, se fazer poemas mas,esmaecidas ,recolheram-se na insignificância de barrancos.Era preciso ser “muito flores” para integrar-se às rimas de que êle precisava.

Caíram tardes vadias,romperam-se novas auroras e, era êle , solitário andante em busca de palavras.
O tempo estabelecido para o retorno seria aquêle em que su´alma estivesse varada de sonetos.
Novos amanheceres,aragens e cascatas,anilados céus traçados de turbinas.

Por vezes , sob os pés, só a poeira da estrada. Noutras:arroios,pedras,lambaris...E um vento morno fuchicava-lhe setembro.
[Sol de primavera!]
Floradas nos quintais abrindo-se em estrofes,olhares nas janelas jurando-lhes amores.Cantavam bem - te - vis nas copas do arvoredo.E num gesto mesquinho,foi  deixando tudo ao longo do caminho.
[ Retornou sem versos.]
A alvorada dos gansos profetizava um novo dia. E ,desajeitado, sequer percebeu num céu de goiabada arabescos de um poema na primeira revoada.