Despedida

Eu gosto da dor. Eu procuro a dor. E choro desamor. Fazer o quê? Algumas almas são naturalmente escolhidas. Naturalmente impelidas. Constrangidas a amar a dor. E cantá-la, feito poetas. E dizê-la, feito patetas. Dor, dor, dor, será por que rima com amor? Por que não furor? Ou ardor? Não sei, sei apenas da dor. Aquela mesma, sem muita pompa. Sem adjetivar. Sem significar. Dor, que dói sem parar. Dor metafísica, que atinge os tímpanos, que retumba da carne através. Dor da alma, dor debaixo das entranhas, na sola dos pés. Dor que atravessa os olhos e vai para trás da nuca. E continua, dor que não pára nunca. A dor é como um elo, uma força mística, uma algema. Ela liga o mim do meu espírito com o eu da minha carne. É uma dor ausente, de uma ausência sempre presente. É uma dor passada que compromete o futuro. É uma dor cansada, em cima do muro. O muro que divide o mundo são do patético. Do piegas. Muro que divide o viver sem dor do viver na dor. Mas eu gosto da dor, eu a procuro em meu sonhos à noite. Eu a procuro nas lembranças melosas, nas máscaras que demorei a decifrar. Ela me alimenta. E eu alimento a dor. Eu não quero partir deste lado do muro. Quero ficar, sem desejar, sem desamar. Quero viver deste último amor. Entregar-me, sem escrúpulos, à dor. Eu sou um ser humano patético! Digam, riam! Eu também rio diante do espelho. E me deleito. Se não fosse a dor, eu não estaria aqui. Devo tudo a ela. Minha última dor, voa longe pela janela...

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 12/02/2011
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