O que acontece quando o amor acaba?

Você pode ser muito cético. Borboletas voando ao seu redor, brisa do mar, céu azul, ou estrelado, ou só o lusco-fusco, ou só o branco da neve, ou nada, e você nem aí. O que enxerga são estruturas. Cada sala é uma ante-sala para outro cômodo. A vida é vivida entre essas paredes. Você pode ser cético e cego para essas belezas. Porém, quando chega o amor... Ah, suspiros, soluços, bochechas ruborizadas, flashbacks dos encontros, projeções do futuro a dois, injeções de ânimo diário; sorrisos instantâneos ao saborear o gole de café. É o amor. Troca de olhares, carinho, cinema. Mãos dadas, bocas dadas, almas dadas e lavadas. Afagos, sossegos, sonetos solitários. Um solo seco é semeado; fertiliza-se. Visualizam-se frutos, árvores, jardins. Cuida-se desses jardins imensos. Rega-se dia após dia. O afeto contínuo do cotidiano. Visualizam-se a velhice, as virtudes de toda uma vida, as feridas. Cobrem-se as cicatrizes; atrozes cicatrizes.

Então, num belo dia - ou não tão belo assim - o amor acaba. Todo aquele esplendor se desmancha, se ofusca. O jardim se seca. As cachoeiras secam. Os pássaros e as borboletas somem. Os sorrisos se fecham, assim como as portas... Assim como as almas. Por algum tempo, vive-se num mundo cinza, monocromático. Tornamo-nos lobos sedentos, raivosos, asquerosos. É a transição. Não somos fáceis nesses momentos. Ficamos frágeis. Somos de vidro. Quebramos com um simples toque. Quanto maior a estatura do amor que desmoronou, maiores os efeitos da queda. E você pode cair com tanta força que o impacto é capaz de criar uma cratera, que te engole. Não tem como sair dela sem se esgotar. Mas você sai.

E surge um novo amor. Num relampejo, aparece o arco-íris. Renascem as flores no seu jardim. E o sorriso ao saborear o café quentinho ao tocar os lábios. O céu fica azul. As borboletas ressurgem, com as amigas andorinhas, com o cheiro da brisa do mar, com as luzes, a felicidade.

E some o abismo, some o sofrimento, secam-se as lágrimas. Fica só você e você, ao olhar para o espelho e reverenciar uma nova manhã. Encara-se. Observa-se. O reflexo faz o mesmo, óbvio. Na mente somente uma certeza: é muito bom amar a si mesmo. Você se ama. É completo em si.

Até que num belo dia - esse é belo ? - encontra um novo amor.

Um amor pelo outro.

Dará certo dessa vez?

Na dúvida, não traia aquele que está do outro lado do espelho.

Leandro Francisco de Paula
Enviado por Leandro Francisco de Paula em 03/03/2011
Código do texto: T2826827
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