Espelho

Espelho

Espelho, espelho meu, haverá no mundo alguém que me veja como eu?

Parece que é mágica, feitiço, deboche.

O tempo, que não passa dentro de mim, tem tantas mudanças no espelho.

Nunca a imagem que vejo no espelho consegue ser a mesma que tenho na alma.

Antes, me devia a imagem de uma pessoa importante, séria, adulta,

E me mostrava uma garotinha, olhos ariscos, sorriso fácil.

Depois veio a fase em que tinha em mim a mãe, a profissional, a esposa,

E lá vinha o espelho com a mulher deslumbrada, olhos apaixonados.

O tempo passou e entretive a garota, para que não fugisse de novo,

A mãe, para que se mantivesse acesa, atenta.

A profissional, para que conseguisse crescer,

A esposa, sempre linda, alegre, disponível,

E esqueci de olhar o espelho, minha imagem interna bastava.

De repente, sem querer, procurei–o, por sei-lá-o-que.

Quase não reconheci a imagem que ele me devolveu.

Vi uma mulher madura, com olhos tristes, rugas, estrias, gorduras.

Voltei a evocar o meu espelho interior, pra ver se ela estava lá.

Não estava.

Ainda há lá dentro a garota, a mãe, a esposa, a profissional.

Ainda estão intactos o sorriso e a paixão.

Fiquei dividida, assustada, ansiosa,

Quis quebrar o espelho mentiroso,

Quis apagar a imagem interna, mentirosa também.

Quis morrer, quis enlouquecer,

Mas agora quase aceito a idéia de somos duas,

Que não haverá espelho que consiga nos unir, contentar, unificar;

Que temos que conviver eternamente,

EU e a minha imagem de espelho.

nadiaestrela
Enviado por nadiaestrela em 06/11/2006
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