Espelho
Espelho
Espelho, espelho meu, haverá no mundo alguém que me veja como eu?
Parece que é mágica, feitiço, deboche.
O tempo, que não passa dentro de mim, tem tantas mudanças no espelho.
Nunca a imagem que vejo no espelho consegue ser a mesma que tenho na alma.
Antes, me devia a imagem de uma pessoa importante, séria, adulta,
E me mostrava uma garotinha, olhos ariscos, sorriso fácil.
Depois veio a fase em que tinha em mim a mãe, a profissional, a esposa,
E lá vinha o espelho com a mulher deslumbrada, olhos apaixonados.
O tempo passou e entretive a garota, para que não fugisse de novo,
A mãe, para que se mantivesse acesa, atenta.
A profissional, para que conseguisse crescer,
A esposa, sempre linda, alegre, disponível,
E esqueci de olhar o espelho, minha imagem interna bastava.
De repente, sem querer, procurei–o, por sei-lá-o-que.
Quase não reconheci a imagem que ele me devolveu.
Vi uma mulher madura, com olhos tristes, rugas, estrias, gorduras.
Voltei a evocar o meu espelho interior, pra ver se ela estava lá.
Não estava.
Ainda há lá dentro a garota, a mãe, a esposa, a profissional.
Ainda estão intactos o sorriso e a paixão.
Fiquei dividida, assustada, ansiosa,
Quis quebrar o espelho mentiroso,
Quis apagar a imagem interna, mentirosa também.
Quis morrer, quis enlouquecer,
Mas agora quase aceito a idéia de somos duas,
Que não haverá espelho que consiga nos unir, contentar, unificar;
Que temos que conviver eternamente,
EU e a minha imagem de espelho.