"É Natal"

Vozeiam;

e na acústica de seus rumôres, ouço

o bater dos pratos,

o bater das portas,

o badalar dos sinos,

o vulto dos gatos,

gritos de meninos:

"o Menino nasceu...!"

E no farfalhar dos passos e das saias,

mal se ouvem o ranger dos corações.

Com o passar do automóvel,

som no último,

pode-se distinguir a voz

do Sumo Pontífice;

meio trepidante,

jorrando pelo auto-falante

rachado da T.V.

da vizinha ao lado.

A rua coagulada de mendigos,

é o único cenário

que quebra a rotina...

não faz festa, nem dá presentes.

No verdadeiro Natal

pensam os esquálidos sem-dentes.

E, oram em silêncio.