Perfeição Tola

Olho para a perfeição tola dos muitos mundos aqui

Que neste mundo exibem-se

Nos rostos dos rotos humanos

Que me são companheiros,

Satanás.

Perfeição... Perfeição!

Ah, dizem que a perfeição é o caminho humano

Que todos os humanos almejam assim como

Os ratos mais imundos almejam ser

Os ratos mais imundos ainda

A comerem um lixo melhor.

Eu quero ser perfeito?

Eu quero ser perfeito?

Ah, Satanás meu amigo, nada como ser perfeito aqui,

Perfeito aqui neste mundo de perfeição tola

No qual a imunda poça chamada esperança humana

De paz para toda gente humana

Cai sem roupa decente em lama indecente.

Ah, Satanás com face de Diabo, ontem mesmo

Eu assisti na Rua Da Desgraça ao assassinato

De mil crianças inocentes com sonhos

Que beiravam os delírios dos adultos culpados

Por todas as mortes diárias.

Ah, Satanás com face de Lúcifer, ontem mesmo

Quando vi aquelas crianças morrendo

Lembrei-me que quando criança eu também fui

Amante da Deusa Inocência

E agora como adulto culpado eu pago minha penitência

Por ter me tornado como todo adulto culpado

Amante da Deusa Desgraça.

Eu quero ser perfeito?

Eu quero ser perfeito?

Culpados hoje os adultos são demasiadamente sendo

Tolos que se acham no caminho de pedirem a si mesmos

Por uma perfeição que apenas aos Antigos Deuses

E aos Antigos Demônios era dada pelo

Espírito Que Concede A Deusa Perfeição Ao Que Exibe

Desde O Berço A Deusa Perfeição.

Satanás, que ridícula trama de delírios diários agora é

Este mundo que tento poder amar mas apenas odeio

Como mar de agulhas venenosas a me assassinarem por todo lar,

Trama de humanos que querem equiparar-se aos Antigos Deuses

Que hoje apenas observam as quedas dos humanos

Pelas vias de orações por uma Verdade De Mendigo

Denominada Verdade De Deus Único,

Trama de humanos que querem julgar aos Antigos Demônios

Como os culpados pelas quedas através das horas que

Eles mesmos moldam por não saberem deixar de contar

As horas estranhas às horas conhecidas.

Humanos não nasceram para serem Antigos Deuses,

Satanás.

Humanos não nasceram para serem Antigos Demônios,

Satanás.

Humanos são Deuses Desgraçados que casaram-se com os seus

Interiores Demônios Desgraçados,

Satanás.

E ainda Lhe culpam, Satanás, quando Suzanes e Cravinhos

Pelo mundo humano ridículo cometem crimes

De aparência mais terrível do que a verdadeira face humana

Vista pelo Espelho Que Quebra Ao Visualizar Faces Quebradas.

Eu quero ser perfeito?

Eu quero ser perfeito?

Perfeição tola agita-se neste mundo nos rostos humanos que

Vagam pelas ruas, pelos ônibus, pelos trens, por toda

Esquina maldita onde as Pombagiras dançam bebendo

Cachaças lançadas aos pés dos pobres passantes humanos.

Um dia passei por uma sombria esquina da Rua Da Miséria,

Satanás, de mãos dadas com a minha desgraça e com os pés

Todos arrastados esfolados pelo solo queimado pelas cachaças

Das Pombagiras que me rodearam.

Ali, Satanás, Maria Mulambo e Maria Padilha Da Encruzilhada

Perdida brigaram por um prato de comida que jazia

Ao pé de um humano estranho a um primeiro olhar meu.

Ajoelhei-me ao lado do estranho humano, Satanás, reconheci

Aquele rosto estranho, expandi sorriso estranho, ergui-me

Para gritar que aquele estranho humano era todo humano

Que tentava ser perfeito quando nem ainda o perfeito

Sabe que existem seres estranhos chamados seres humanos.

Eu quero ser perfeito?

Eu quero ser perfeito?

Sorri, gargalhei, cai sorrindo, cai gargalhando, Satanás,

Enquanto Maria Mulambo e Maria Padilha Da Encruzilhada

Perdida brigavam pelo prato de comida daquele estranho humano

Que reconheci como todo humano que busca

A perfeição tola de querer ser perfeito antes de avisar

À Deusa Perfeição que existe e que quer ser perfeito.

A briga ficou maior, eu sorria maior, eu gargalhava maior,

Satanás, aquele estranho humano retorcia-se tentando

Alcançar o seu prato de comida que estava estragada.

Sorrindo mais, gargalhando mais, Satanás, eu vi o rosto

Daquele estranho humano, é um rosto do modelo mais belo

Da imbecilidade humana, é um rosto do modelo mais belo

Da canalhice humana, é o rosto do ser humano quando acorda

Pelas manhãs das vidas humanas dizendo-se

Que a felicidade está próxima ou a felicidade já está em si.

A Deusa Felicidade me ouve agora, Satanás, e gargalha, pois

Nunca soube que aqui esteve ao lado de um ser humano

Que disse que a possuia.

Eu quero ser perfeito?

Eu quero ser perfeito?

Maria Mulambo, Satanás, ganhou a briga chutando para uma Esquina Da Rua De Todas As Pombagiras Vencidas a sua adversária

Maria Padilha Da Encruzilhada Perdida.

Maria Mulambo, Satanás, pegou o prato do estranho humano,

Enquanto eu continuava a sorrir, enquanto eu continuava

A gargalhar, começando a saborear a comida dos que se acham

A caminho do pedido pelo carinho da Deusa Perfeição.

Maria Mulambo, Satanás, não conseguiu comer nada, a comida

Estava mais estragada do que o estragado, a comida estava

Gerando vermes que nem alimentariam cães leprosos,

A comida me fazia sorrir pelo estado ridículo do pensar humano,

A comida me fazia gargalhar pelo estado escroto do agir humano.

Maria Mulambo, Satanás, ergueu-me e me chamou para dançar,

Em mim esfregou-se, caimos em uma roda de samba tocada

Pelos Zés Pelintras De Todas As Almas, caimos em redor,

Sambando como Deuses Sem Dó em redor do estranho humano

Que se contorcia de vergonha por querer ter sido um algo

Que humano algum pode dar ao seu lago.

Eu quero ser perfeito?

Eu quero ser perfeito?

Satanás, dancei em redor do estranho humano com aquela

Rainha Maria Mulambo, sapateei como não-humano, rodopiei

Como não-humano, sorri como não-humano, gargalhei como

Não-humano, pisei muito naquele estranho humano, pisei demais

Naquele estranho humano.

Satanás, dancei muito, vi mundos dançando, obtive visões de

Mundos perfeitos que dançavam em Esferas Perfeitas, ao toque

Daqueles Tambores Das Encruzilhadas e ao som das gargalhadas

De Maria Mulambo assisti ao que jamais um humano poderia

Assistir sendo apenas humano.

Satanás, eu queria parar de dançar, mas eu dançava sorrindo,

Eu dançava gargalhando, eu me via ali, eu me via aqui, eu me via

Lá, eu me via, eu me via... Amigo Satanás, eu me via no

Estranho Humano!

Satanás, eu me via no estranho humano, eu me via terrivelmente

No estranho humano do qual escarneci, o qual desprezei como

Se eu fosse perfeito, como se eu fosse perfeito!

Eu quero ser perfeito?

Eu quero ser perfeito?

Perfeição tola me atingiu, Satanás, atingiu a mim que de

Perfeito não possui nem o dançar, eu parei assim de sorrir, eu

Parei assim de gargalhar, mas Maria Mulambo não me deixava

Parar de dançar, parar de rodopiar, parar de me ver ali naquele

Estranho humano repugnante!

Eu precisava parar! Eu precisava parar de dançar! Eu precisava

Parar de rodopiar! Os Tambores! Os Zés Pelintras! Maria Mulambo!

Sem ar! Sem lugar! Sem armar! Sem parar! Sem lograr parar!

Sem sair! Sem lograr sair dali!

Satanás, a perfeição tola me viu, a perfeição tola vi, a perfeição tola

Vi em mim! Eu cai da Morada Celestial que moldei em mim, da

Morada Celestial, Satanás, na qual me sentei em um trono

De arrogante metal incrustado de orgulhosas pedras preciosas

De cintilante cor a toda cor a mais desprezar!

Eu cai, Satanás, eu cai, eu cai, quando parei de dançar, empurrei

Maria Mulambo, cai à frente do estranho humano, corri dali,

Ouvindo Maria Mulambo gargalhar, ouvindo os Tambores a tocar,

Ouvindo os Zés Pelintras a cantar!

Corri dali, corri dali, Satanás, sem rumo para rumar, sem muro

Para murar, sem rua para asfaltar, sem esquina para chegar,

Sem lar para construir!

Eu quero ser perfeito?

Eu quero ser perfeito?

Nas mãos do Deus Pesadelo neste pesadelo perfeito que estou a

Lhe narrar, Satanás, continuei correndo, continuei correndo,

Em toda esquina eu via o estranho humano, que sorria para mim,

Que gargalhava de mim!

Nas mansões do Deus Desespero neste desespero que estou a

Lhe narrar, Satanás, continuei correndo, continuei correndo,

Em toda esquina eu via o rosto do estranho humano, um rosto

Estranho quando das primeiras infinitas esquinas, um rosto

Conhecido quando das ainda primeiras infinitas esquinas!

Nas prisões da Deusa Verdade nesta Verdade que estou a

Lhe narrar, Satanás, parei de correr, parei de correr,

Cai ajoelhado em uma esquina da Rua Da Certeza, Maria Padilha

Das Santas Almas Benditas a dançar um Samba Cósmico

Tocado pelas Estrelas Ocultas Das Encruzilhadas, em um canto

Da esquina o estranho humano sentado a comer estranho

A comida verminosa de ser estranho prato.

Naquela liberdade da Esquina Cósmica Da Certeza nesta certeza

Que estou a Lhe narrar, Satanás, chorei de horror, chorei de horror,

O estranho humano possuía o meu rosto, o estranho humano possuía

O meu estranho rosto, comia como eu comia, me olhava como eu me

Olhava, sorria como eu sorri, gargalhava de mim como eu dele

Gargalhei, se aproximou de mim como eu dele me aproximei.

Naquela aproximação próxima ao sapatear cósmico de Maria Padilha

Das Santas Almas Benditas nesta aproximação que estou a Lhe

Narrar, Satanás, chorando de horror, chorando de horror,

O estranho humano parou de sorrir, o estranho humano parou de

Gargalhar, o estranho humano chorou de horror, o estranho humano chorou de horror, o estranho humano me abraçou, o estranho Humano não quis dançar.

Eu quero ser perfeito?

Eu quero ser perfeito?

Sonhei ali comigo perfeito, Satanás, enquanto Maria Padilha Das

Santas Almas Benditas em nosso redor dançava, sapateando para

Estremecer todo aquele Solo Da Certeza de que eu e ele éramos

A Humanidade Perfeita.

Acordei, Satanás, abraçado ao estranho humano, com a certeza de

Que a perfeição tola já é humana, ela é que faz toda Humanidade

Acordar todo dia de seu pesadelo que pensa ser um sonho para

O palco que um dia irá receber a Deusa Felicidade sem ao menos

Aceitar o jugo agora real da Deusa Infelicidade.

Maria Padilha Das Santas Almas Benditas continuou a sapatear

Em redor de mim, Satanás, enquanto eu e o estranho humano nos tornávamos Um, Um para toda a Humanidade, Um para toda a minha odiada Humanidade, Um para a odiosa Humanidade.

Maria Padilha Das Santas Almas Benditas continuou a sapatear

Em redor de mim, Satanás, enquanto eu adormecia deitando-me

Com um grande choro que não se acaba naquela esquina da Rua Da

Certeza, tornando-me um estranho humano de perfeição tola como

Todo humano é um estranho humano procurando uma perfeição

Tola.

Eu quero ser perfeito?

Eu quero ser perfeito?