A VOZ MISTERIOSA DO FIM

Caminhando...

... vejo no horizonte, como que delineado por nuvens coloridas, um belo jardim!

Me aproximo de um portão dourado, cujas portas se abrem à minha presença.

Uma relva viva, com verdejante brilho se estende por entre as floreiras, que nas minhas observações nunca presenciara.

Os olores vindos das flores, parecidas com flocos de nuvens como que tendo vida, me extasiam a alma.

Caminho pelas vielas misteriosas, tendo a sensação de que não estou pisando no solo. A leveza do meu corpo parece ser fruto de uma energia levitante associada ao perfume, cuja essência jamais experimentara.

As flores, com mudanças de formas e cores, proporcionam-me uma admiração tal que meus olhos se umedecem.

Dando meus passos vou percebendo que as alamedas se multiplicam, as ramagens se intensificam, as flores ficam mais próximas umas das outras e seus coloridos se destacam, dando vida aos adjetivos que as enfeitam!

Tal é meu deslumbramento que me vejo perplexo, e sem perceber, entro por uma viela escura, momento em que, talvez por instinto, faço uma parada para reflexão.

Tudo é silêncio em redor; nem mesmo sinto o tão costumeiro zumbido das abelhas existentes nos jardins floridos. Entretanto no aconchego daquela paz perfumada e colorida sem que eu esperasse, ouço uma voz que me diz: Ouça...

Não vejo pessoas e nem mesmo possíveis componentes da fauna, ouço todavia um ruído branco, como o som de uma cachoeira. Inesperadamente ouço outra vez a voz, com um suave timbre angelical a dizer-me: Escute a voz da natureza, ó peregrino!

-Estou ouvindo – penso com meus botões – pode falar.

Na continuidade daqueles momentos inicia-se um vento emitindo um som musical de órgão, como que vindo das vibrações das ramagens, das flores e do próprio solo! Ouço a natureza cantar o poema do fim! De repente me sinto enfraquecido, me deito na relva e me desfaleço.

Não sei quanto tempo se passou, só sei que acordo no céu, pois o lugar é centenas de vezes mais belo do que o jardim das flores vivas, e meu bem estar é nota mil! Mas o mistério continua!