RENDO-ME

Rendo-me ao suave balouçar das ondas

no ritmo inexorável do tempo... e sigo:

É tempo de partir, enfim.

Deixo para trás a primavera exuberante

e os verões de fogo e águas cantantes.

Prenuncia o outono um derradeiro adormecer.

Murcharam as flores. Calaram-se os rios.

Chegou a neve, minha alma tem frio.

Rendo-me ao fluxo das areias

Entre as dunas e baixios... e escôo:

É tempo de deixar o passado ser passado.

Átomo liberto no espaço, fluo sobre a vastidão do deserto

e plano sobre oásis de sonhos e esperanças.

Parto, rumo a um destino preconcebido mas não fixado.

Tão importante quanto a chegada deve ser o modo de viajar,

os companheiros de jornada, a solidão do caminhar.

Rendo-me a sabedoria Suprema.

Busco a beleza da existência, persigo Sonhos,

Encontros, Vontades, outras realidades.

Todas as criações mais belas que não foram escritas

pairam no ar... etéreas como sinfonias inacabadas,

Inefáveis... frutos da comunhão do bem e do mal.

Entre o caos e a ordem, sou o zênite perdido.

Rendo-me ao inevitável ante a magnitude do impensável.