Eu sou só aquele que escreve com a razão

Eu sou só aquele que escreve com a razão,

E que tem tanto por dizer

Que as palavras se enleiam umas nas outras

No verbo porvir do que não sou.

Poderia ser uma janela e deixar o sol entrar

Como quem abre os olhos para o sol e deixa de ver

Poderia ser este riacho que descobre o caminho por entre as pedras

Mas eu sou só aquele que escreve com a razão

Por isso não posso ser nada disso.

Às vezes dou por mim a pensar como seria bom não ser nada disto

E ser só aquele que passa e sente o que vai à sua volta,

Mas a razão dá-me ao pensamento o abrigo onde me escondo

E nele invento mil razões para não pensar em nada disto.

Se me contradigo é porque penso, e não há nada como pensar com os olhos

Sentir na pele a fome dos outros e entristecer-me por tudo isso.

Ai, quem me dera, não ter a razão comigo

Ser só o que passa e volta a passar

Assobiando pr’á vida as suas conjecturas

E no final de tudo isso descobrir que não tenho razão nenhuma.

Jorge Humberto

12/11/06

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 12/11/2006
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