América de Allen Ginsberg

América, que horas acordará de teu sono profundo?

E teus navios afundados na segunda guerra, por que mares eles navegam?

E teus presos politicos?

Uma noite sonhei um sonho comunista, era 25 de dezembro.

América, esse ano a páscoa será mais cedo?

Eu não vi os expoentes de tua geração caindo bêbados na sarjeta

Onde estarão esses homens hoje?

Em tuas bibliotecas cheias de lágrimas?

América, eu gosto do Allen Ginsberg mas isso não quer dizer necessariamente que eu seja viciado

Por que vias circula teu veneno?

Eu já acordei de madrugada suando frio e chorando baixo, eu senti teu blues

Já li poemas magnificos sobre teus erros e teus encantos

Que horas mesmo irá acordar de teu sono profundo?

Porque eu trabalhei, e estudei, e caminhei por milhas, e vi o sol nascer e a noite acabar com ele, e eu não senti tua liberdade

Eu [ainda] não escutei a voz da liberdade

Eu não conheci teus direitos cíveis

Mas aqui estamos, América, New York, New York,

Com a lama até o pescoço

Dedilhando nas últimas cordas de nossa esperança

América, não vi nascer teus heróis, mas os vi mortos em guerras

Golfo, Iraque, Afeganistão, Líbia, Vietnã

A carne dos soldados americanos é tão frágil quanto a de um muçulmano,

As balas perfuram igual, talvez até com mais força, mais raiva

Allen Ginsberg, onde está sua América? Onde está você?

Eu te vi num sonho louco, dançando como uma chama viva

Nós procurávamos através do espaço a tua América perdida

América, alguns centavos, dois cigarros e os sonhos de Allen Ginsberg