Escravidão

Eu simplesmente detesto a maneira como isso me prende... as vozes, os olhares, os sons das risadas, o toque. O cenário todo. E penso em quando isso terá fim, em quando meus olhos se encantarão e não mais terei que viver esse círculo vicioso. Escutar as mesmas frases, dia após dia, me cansa. Nada é novo, nada me faz querer suspirar e sugar o último ar até o êxtase. É nulo... por mais que todos os meus sentidos se esforcem na ânsia da completude, não. Quase desisto de insistir, mas aquele vazio persiste em me ferir dizendo que precisa ser preenchido. E tento e movo e falho e retento e me condeno e me derramo e me enxarco e me quebro e me reergo e me regenero e me descabelo e me salteio e me rearrumo e sigo... da minha melhor maneira, quase atinjo a perfeição... E deixo que o chiado continue, que o risco se faça, que a vida me reserve. Essa liberdade que procuro parece ser a própria escravidão assolando meu mais infinito desejo de entrega sem limites.