Escaras*


Serão as novas dores tão doloridas como as velhas dores?
Mora em minh'alma, em sua morada desmedida, que principio a pensar que permanente, a Dor.
A catarse dos últimos dias, vasculha-me de ponta a cabeça.
Sob a luz desse abafado abril, taciturna, minh'alma peregrina a perdida terra da minha trajetória de vida...procura o não sei o quê, no não sei aonde...talvez o cerne medular dessas desvairadas e constantes dores.
Não vivo sequer um milésimo de instante sem a minha Dor.
A vastidão da ignorância sobre o nada e o tudo me atrai com seus estalos, sucessões e vicissitudes.
A insensibilidade ferina me machuca...a violência disfarçada me aterroriza...a indiferença deliberada me angustia...a estupidez grotesca me adoece...a fingida lealdade me enoja...a ostentação do ter me enjoa.
Todavia a dor Dele sentida em meu lugar na cruz me quebra ao meio e me dobra ao chão...o amor Dele insondável e sacrificial me atinge na artéria-mãe da minh'alma alquebrada.
E, entre essa dualidade desmedida de sentires e saberes, minha visão turva de orvalhadas lágrimas que banham o azul do meu olhar, contempla um microscópico feixe de esperançosa luz no caminho...
Não posso ser eu, nessa luz listada de esperança, entre velhas dores e novas, alegre dentro da minha desvairada tristeza?
Acompanhada dentro da minha solidão povoada?
Não posso ser eu cálida e morna brisa para o outro, mesmo que me sinta uma paupérrima alma?
Uma lavradora de sonhos alheios, aquém minha própria chorosa malograda plantação de sonhados sonhos?
Talvez até feliz dentro da minha pungente e rica infelicidade?
Não o sei...
Pois inevitavelmente... não vivo um milésimo de segundo sem sentir as escaras da minha dor.


KARINNA*

Karinna
Enviado por Karinna em 11/04/2011
Código do texto: T2902356