O HOMEM DO TAMBOR.

Ei, olha o homem que toca o tambor do outro lado da rua, ele quer acordar a manhã, com o som matutino do seu tambor.

Olha a manhã que desponta, seduzida pelas batidas do tambor, ela vem trazida pelo sol, irradiando magia em teu brilho.

O tambor tem as mesmas batidas de meu coração e a manhã é a mesma que sai de meus olhos, que deixa nua minha alma, escancarada para o mundo, me rasga o peito e faz sangrar, jorrar, rubro licor da vida.

Eu já sou não mais uma mistura de carne e músculos, que um dia já foi barro, sou essência, como me ensinaste a ser.

Olha o homem que ainda toca o tambor, ouça as batidas bem compassadas, que atravessa as ruas e se mistura a batida de vários corações que também rompem as manhãs, apressados em seus compromissos, angustiados em seu pequeno universo.

Ouça os corações, que se arrastam pelas calçadas, que se armam de ilusões, para disfarçar emoções, algumas delas compradas a baixo preço numa loja de liquidação, outras geradas na frustração de não se achar o caminho e muitas delas sustentadas pela esperança, pela ânsia de quem espera, como ultimo refugio, um fio de seda para se agarrar, frágil para se falar, forte demais para sentir.

Ei, o tambor, calou-se e ambos foram embora, o homem com seu dever cumprido, o tambor com sua paixão acesa nos corações, a manhã está refeita, voltarão a tarde, com certeza, para reinventar a noite.