FELICIDADE [MONÓLOGO] 


  


 
                        Não. Eu não tenho inveja de nada e de ninguém. Não invejo quem é feliz. Muito ao contrário. Admiro muito a pessoa que conseguiu encontrar-se com a felicidade e com ela anda de mãos dadas. Que declara sinceramente e do fundo do coração que nada tem a reclamar, pois a felicidade existe e está consigo.
                                É. Num universo de mais de seis bilhões de seres humanos alguém poderia dizer-me quantas pessoas tem esse privilégio? Embora acreditando parcialmente, pois sei que existem, tenho comigo a mais absoluta certeza de que ninguém consegue ser feliz vinte e quatro horas por dia durante toda a sua existência terrena (vida), assim como também não é e nem será infeliz durante as vinte e quatro horas de um dia durante um mês ou um ano.

                               - Ei cara Felicidade. Bom dia. Estou aqui e quero ser teu amigo. Quero também estar contigo. Podes chegar-te até aqui? Até a mim?
                               - Tu és tão popular. Todos te querem e te procuram. Aliás, o mundo inteiro está em busca de ti, Felicidade.
                               - Ba! Em vão essa minha conversa. Essa danada  não quer nada comigo. Eu já fiz de tudo para que ela se rendesse. E o que ganhei com isso? Só desilusão, sonhos e desespero.
                               - Um dia sonhei com a felicidade. Estava multicolor. Branca, Verde, Azul, Laranja, Vermelha, Roxa, Rosa, Amarela. Parecia mais um arco-íris. Aproximou-se de mim e jurou fidelidade. Jurou que estaria comigo pelo tempo em que eu dela precisasse.

                              Ah! Com ela estava o meu amor. O meu grande amor. Lindos dias, meses, anos se passaram. Ainda que depois tenha me decepcionado tanto, sou obrigado a agradecer aqueles momentos que foram eternos e inesquecíveis.
                           - Mas cadê essa danada? Pra onde ela foi? Ei Felicidade, por que me abandonastes? Por que seguistes o meu ex-amor se ele(a) não precisa mais de ti? Ele(a) já escolheu outra  felicidade a seguir.
                              - Ah! que pena. Tudo voltou ao normal. A noite findou e a aurora chegou.
                              - Clementino, o teu despertador está tilintando. Quer que eu o desligue ou vais levantar agora? Já são seis horas da manhã. Era a minha consciência chamando-me para as obrigações diárias.
                    Cadê a felicidade? Ela um dia voltará pra ficar.