DESPINDO-SE

DESPINDO-SE.

Vou falar para você da solidão. Desses meus dias, longos, breves, ao mesmo tempo cotidianos, sem meta, nunca seguindo em linha reta.

Vou falar para você da minha vida tépida, da minha boa-má vontade, da minha alegria insípida, das minhas poucas lembranças, e de muitas-poucas palavras que disse.

Vou falar para você de como passei dias olhando para uma parede cor de caramelo até que ela perdesse sua cor e se tornasse cor da minha sombra, de como errei sozinho com as mãos nos bolsos, ou abanando-as...

Ah, é como descansar sempre a cada sombra de juá pelo sertão árido da vida, encarar o sol com desafio fazendo sombra com as mãos aos olhos.

Nada disse. Nunca aprendi certo o idioma dos homens, nem nunca provei do beijo proibido. Minha cama esteve fria, apertada, minha alma voltada para uma parede.

Quero falar para você da sua importância, mesmo que nada significou, entre nós apenas gravetinhos e folhinhas miúdas lançadas ao chão; riscos feitos com as pontas dos pés sobre a areia de um solo árido, distante, e às vezes, muitas vezes à sombra confortante de um juá.

Nem sei se te amei, se o seu Te provocou-Me tanto, tanto, mas me sacode – saco vazio que sou – ainda procura-Se algo dentro de Me, é Te, querer...

Rodney Aragão

17 de abril de 2011.