Resmungando com meus botões

Sentado num banco, olho o vai e vem dos que vão passando pelo corredor. A maioria parece está representando um papel. Estão num palco, e a peça não tem hora para acabar... afinal, os imprevistos são tantos... Depende do público, das tentações, dos aplausos... Exibindo suas roupas da hora, o andar ostentando a classe ( o degrau da ascensão); gestos e modo de falar dramaticamente decorado, imitado. Ali é o ‘lugar exato’ de quem quer aparecer, ficar descolado, enturmado, bem visto, admirado, endeusado, babado, sacolejado, ser alguém... Ufa, até agora, muitos nem descobriram o que são! Mas morrerão se preciso for por essa causa.

Há os compradores compulsivos: compram de tudo, sem observar o que estão levando, se estão realmente precisando, têm apenas duas certezas: 1ª) precisam desesperadamente comprar (qualquer coisa serve, e se for de tamanho grande, melhor; e o número de sacola tem que ser crescente);2ª) ao entrar no carro poder observar os bancos ou qualquer recanto abarrotado das novas aquisições. Perdeu o número do que comprou, nem sabe quanto gastou... Ah, satisfação! Sensação de dever cumprido. Perder o sono? Só se for um pobretão metido a besta, porque se tiver contas intumescidas de dindim, não está nem ai pra o que gastar. Conheço uma, que compra , compra e compra; depois descobri que não gostou do que comprou, não era bem aquilo que queria, a cor não lhe agrada, etc, aí quem ganha é a empregada (depois que ela tacanhamente deixa a mercadoria encalhada anos nos inúmeros armários). Quanto aos assalariados: a história muda. Perdem o sono, vão roer unhas, sabugos, contar carneirinhos, arrancar os cabelos, pedir emprestado, dá cambalhotas pra pagar as contas quando a gorducha fatura chegar.

Percebo uns ajuizados; poucos é verdade. Carregam algumas sacolas, observam atentamente a mercadoria, comparam preços, tem gestos comedidos (afinal não estão no palco), talvez não comprem tudo que desejem, mas saem tão leves quanto entraram. Dormem o sono dos justos, e cada manhã é dia de planejar, trabalhar e valorizar cada moeda conquistada. Quanto ao pertencer algum grupo da hora... Não perdem tempo com essas baboseiras, pois sabem que as empadinhas são tão instáveis quanto à moda do momento.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 20/04/2011
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