Dizem as más línguas, ou seja, os entendidos,botânicos e afins que o fruto do cajueiro é a castanha. Reservo-me o direito de continuar a achar que o fruto do cajueiro é o caju. A castanha é um mero acidente de percurso do caju.
         Vejamos:Quando voce olha para um cajueiro carregado o que vê? Claro que são aqueles frutinhos coloridos que lembram um árvore natalina.
      O caju,para sorte minha,sempre esteve presente em minha vida. Lembro perfeitamente como ficava encantada quando chegava à Pilões, sítio de meus avós, e os cajueiros estavam em flor. Um cheiro adocicado rescendia e invadia minhas narinas nas minhas andanças pelo sítio. As árvores, geralmente desgalhadas, favoreciam a minha exploração à cata dos primeiros frutos. Mal adormecia e milagrosamente, lá estavam eles coloridos, cheirosos,prontos para a colheita. E lá vinha Zé Reinaldo já com um balaio cheio de cajus. E como eram de cores e formas diversas. Alguns redondos, outros compridos, uns pequenos, outros enormes. Amarelos, vermelhos,laranjas,enfim uma gama de cores de encher os olhos.Era um balaio que era uma festa. Ao chegar, dos cajus eram retiradas as castanhas. Daí, um bom banho nos frutos. Passavam então por um processo: eram furados com espinhos de laranjeira e espremidos até que nenhum suco restasse.O suco escorria pelas maõs, descia pelos braços e um cheiro impregnava tudo. Da cozinha vinha a rapadura raspada que iria servir de cama para os cajus já secos.E havia um segredo. O local onde ficava a castanha tinha que se juntar à bundinha do caju para que ficasse num formato perfeito.
           As camadas de caju eram alternadas com a raspa de rapadura até preencher o enorme tacho de cobre.O fogo à lenha
indispensável, já estava no ponto quando Zé Reinaldo deitava o tacho.Ao fim do dia, o fogo era apagado, só voltando a crepitar na manhã seguinte. Não era um fogo de labaredas, era um fogo manso onde se via só as brasas. Ao final de três longos dias, as passas de caju estavam prontas para inebriar o mais exigente paladar.
         O tempo passou, os cajueiros envelheceram, eu quase. Mas, ainda existem e safrejam, mesmo que eu não tenha coragem de voltar lá. A saudade é tão intensa que me trava. Mesmo que Zé Reinaldo não esteja mais lá, quem sabe eu voltaria ao passado e faria um balaio de passas de caju.