Variável

Lamento não ter lhe tratado tão mal quanto deveria no momento que deveria, mas sabe? Eu não sabia que aquele estranho gosto por maus tratos eram parte de você, assim como é parte de tantos. Caí na cilada de acreditar, baseada em absolutamente nada, que você era uma exceção e claro, não era, nem é e nem será.
Cometi o absurdo de tratá-lo com uma deferência acintosa demais para quem está habituado e gosta de grosserias.
Precisei fazer do meu coração tripas para tratá-lo como gosta e então sim fiquei assombrada com sua reação. Não é que ficou irado, absurdamente irado?
Queria entender como se deu tal mudança de hábitos e gostos, mas queria mesmo saber se isto dura e por quanto tempo até que volte ao primeiro estado, aquele de sentir prazer em tratamentos cruéis.
Nem acho mais que as pessoas são complicadas, mas o que agora me deixa um pouco intranquila é saber mais ou menos quanto dura cada sentimento, cada pensamento ou cada reação inversa que as pessoas costumam ter, afinal preciso me adequar se quero fazer parte disto tudo... Bem, aí é que reside a minha posição mais pessoal; não quero fazer parte de nada! Não me interessam estes arroubos momentâneos.
Meu cotidiano já é por si só uma inconstante variável, para que eu iria querer mais um código para elucidar dilemas alheios? Não. Masoquismo jamais foi minha viagem escondida em dobras do meu eu, nem sadismo e por falar em sadismo, estou fora!
Cada um tem prazer no que lhe dá prazer e eu me dou ao meu, que é de não me interessar por aberrações, sejam elas justificadas ou não. Se há quem goste de apanhar e quem goste
de bater, que eu tenho com isso? Nada, absolutamente nada!
Só para encerrar o ciclo que não me interessou, não vou usar chicotes e nem me ajoelhar, porque sabe, eu não rezo este terço em quarto nenhum, nenhum!