UM POEMA É
Um poema é a fumaça fétida das chaminés
É o lodo dos canais imundos
É o esgoto que represa sob as palafitas
É o andrajo dos mendigos
É a estatueta disforme feita pelo hippie
É a fome das crianças da favela
É a desnutrição dos adultos do sertão
É a estupidez do homem urbano
É a labareda incandescente que destrói o cerrado
É a motosserra zoadenta que devora a floresta.
Um poema é o motorista irritado nas marginais do Tietê
Amedrontado na Linha Amarela
É o camelô que foge arrastando bugigangas
É o rapa que apreende mercadorias na calçada
É o policial sem colete que troca tiros com bandidos
É o bandido que massacra crianças indefesas.
É o parlamentar sentado na cadeira estofada proclama que a lamúria deste poema é a maldição da sociedade.