Ele e Eu - Eu e Ele
Será que ele se sabe diante da própria imagem? Ele se repete todos os dias, cria e apazigua os seus próprios fantasmas.
Ele me apresenta olhares distantes mas perguntadores. Será que ele me vê como sou? Sou seu ídolo e seu modelo, seu colo e seu aconchego. Sou seu motivo e sua liberdade explícita, a que ninguém rouba; por que sou seu pedaço de céu quando meu colo balança, e seu inferno quando a vida lhe cansa.
Seus passos no meio fio, fazem o meu corpo em arrepio, a vida por um fio na roleta russa que ele aposta.
No corpo a marca da força, nos olhos a pureza dos sentimentos misturados a um mundo que ninguém conhece. Na voz sons incompreensíveis e repetidos, entremeados ao conhecimento seguro de quem estuda com afinco. Filosofamos sobre a vida e os comportamentos, onde ele só teoriza eu já provei, onde eu teorizo ele nem imagina provar; pausas e muita troca,
quase nos completamos, quase nos odiamos.
O seu tempo escorre como água que se perde no ralo, sem que eu possa deter, atrás dos lindos olhos,ele foge do sol, para manter o alvor da pele, e da noite, por medo da imensidão. Enquanto ele se fecha em cubículos da sua alma, eu ganho asas para o infinito, somos sol e lua, sombra e luz, indo e voltando, ora eu, ora ele.
Quero parecer normal, e ele se esconde do real, me atiro no irreal e ele odeia a normalidade. Sou o avessa a razão e ele se esconde do coração.
Eu me amo diante do espelho, por que me gosto como sou, ele odeia a suas manchas na testa, e está as voltas com o dente do siso.
Gostamos da nossa solidão, eu da minha intimidade e ele da sua excentricidade. Me calo enquanto ouço teus silêncios gestuais; engulo perguntas que nunca saberei das respostas.