Sem palavras
 
Como se escreve lágrimas,
Como se escreve dor,
Como se escreve solidão?
Existem palavras que descrevam exatamente lágrimas?
E dor? E solidão?
Não são as palavras, mas o que representam, porque palavras são apenas palavras, mas o sentimento vivido é muito além da penúria de qualquer palavra.
Se as lágrimas estão nos olhos insistentes em não caírem pelo solo,
Se a dor está no coração persistente em não inundar o ar,
E a solidão é tão profunda e seca que não umedece nada,
Como poderia escolher palavras ou símbolos que descrevessem tal agonia?
Uma agonia tão enclausurante, tão esmagadora que não sei onde fui parar.
Nem sei se fui parar em algum lugar ou se apenas me contive numa implosão.
Por ver a permissão de lançarem sobre o meu amor um questionamento tão sórdido,
Soube que era sórdido diante daqueles olhos o meu amor e então implodi diante de uma constatação tão violentamente degradante pela desonra que se ousou impor-me.
Nada a minha volta, nenhuma poeira que indique o tamanho do desmoronamento...
Como uma simplicidade pôde tornar-se numa complexidade tão além me deixa em silêncio.
Então não poderei tentar escrever lágrimas, dor e nem solidão porque tudo isto nem é descritivo e estou silenciada.
Apenas posso dizer que implodi e tal ideia é rapidamente visível, um fato quase que palpável,
Nesta minha distância deste eu que foi demolido e que não reconstruirei, assim como não refiz nuvens, porque este eu também não me interessa mais, está sacramentado assim que um suposto outro eu também não será gerado.
Tristeza não, nenhuma; era fato esperado. Desistência sim... Também esperada e aceita totalmente.
Algumas vezes, em determinadas circunstâncias desistir requer tal coragem, lucidez e sensatez que raramente é possível tê-las. No momento, não sei se por privilégio, ou se pelas lágrimas, dor e solidão indescritíveis, elas estão à volta deste arruinamento invisível, mas presente integralmente.

15.05.2011